quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

FIM DE ANO, CINEMA E MÚSICA, PRA VARIAR

Que bom que o REM não parou no tempo. Que bom ter visto um show tão diferente com a Orquestra Contemporânea de Olinda. Que bom não ter entendido muita coisa quando ouvi Third pela primeira vez, para que agora Machine Gun e Magic Doors acessem tanto os meus sentidos. Que bom que, aos 43 minutos de 2008, eu tenha assistido ao Menino de Pijama Listrado e possa ter visto mais uma vez a mesma realidade de uma nova perspectiva.


Para 2009 existem muitos desejos e um deles foi sintetizado em uma campanha da ILGA Portugal contra a homofobia, que está disponível no YouTube:

http://www.youtube.com/watch?v=Xtv2OjDV6t0


Sonhar não custa nada e, boa parte das vezes, ainda dá frutos.


quinta-feira, 25 de dezembro de 2008


POR SUA RELEVÂNCIA, O MELHOR DO ANO

Neste filme de Gus Van Sant, Alex é um menino completamente perdido sobre o que acontece ao seu redor e, principalmente, dentro de si mesmo. Ele se envolve em uma situação que culmina na morte de uma pessoa, mas é tão carente de referências e de valores, que não consegue julgar os próprios atos. Não chega a uma conclusão sobre se estava certo ou errado no lance e nem mesmo consegue reagir ao cerco que a polícia monta ao redor da "comunidade de skatistas" na qual ocorreu o crime. Aliás, "comunidade" não, porque as pessoas que se reúnem no parque Paranoid para andar de skate mal se conhecem, como bem lembrou um dos garotos investigados. Não há família que ampare, escola que desperte, política ou causas capazes de atrair aqueles garotos sem rumo. Eles estão mergulhados em si mesmo e dão de cara com um tremendo vazio.

O filme dividiu opiniões. Muitos disseram que o diretor filmou com distanciamento e frieza irritantes. Outros simplesmente sacramentaram a crítica: "muito chato". O fato é que Van Sant não dá moleza aos espectadores e prefere usar o próprio jeito de filmas para reforçar uma história que já vem contando em filmes como O Elefante e Last Days. No primeiro, investiga um massacre ocorrido em uma escola americana e, no segundo, os últimos dias de vida de um astro de rock. Em ambos, a lentidão e a aparente falta de propósito marcam as cenas, lembrando a sensação que inspirou Kurt Cobain (não por acaso, Last Days é sobre ele) a compor Smells Like Teen Spirit: "é sobre a apatia da minha geração".

Bem longe da isenção, o cineasta filma com uma visão de mundo, oferecendo seu ponto de vista sobre uma juventude que bóia na marola da apatia, radicalmente desvinculada de qualquer coletividade.

domingo, 30 de novembro de 2008

NEM NA FOTO

Polêmicas sobre beijo gay na TV brasileira continuam ganhando corda. Domingo, 23 de Setembro, a Revista da TV do jornal O Globo fez uma matéria sobre os personagens gays de seriados. Nenhuma novidade, não fosse a foto escolhida para a capa da edição: a cena do beijo entre Kevin e Scotty, personagens do seriado "Brothers and Sisters", que passa por aqui na TV a cabo.

Na semana seguinte, as cartas dos leitores não deram moleza ao jornal. O repúdio à foto foi justificado (pelos que tiveram suas cartas publicadas) em função das crianças e dos mais idosos. Todo mundo tratou de dizer que não achava necessário, nem construtivo, mostrar foto ("gigante", segundo um leitor) como aquela. Reclamaram muito que seus filhos ficaram perguntando por que dois homens se beijam. E que pessoas idosas se sentiram agredidas.

Fico feliz em saber que, mesmo revoltados com a maléfica influência da mídia sobre crianças e idosos, os leitores avançaram muito em sua visão, já que todos disseram que não tinham NADA contra homossexuais. Ah, que bom...


sábado, 8 de novembro de 2008


HOPPER E A CIDADE

Embora sejam lidos como sintomas de amargura e solidão, como pinturas tristes sobre pessoas que não se comunicam, os quadros de Edward Hopper emanam uma tranqüilidade rara. Colocam um inusitado tom bucólico bem no meio da cidade. Como a cidade poderia ser, ao menos algumas vezes, só que nunca é. Os espaços de introspecção desparacem dela. Por isso ficam tão bonitos pintados assim.

Quadros: à esquerda, NIGHTHAWKS (1942); à direita, CHOP SUEY (1929)

domingo, 2 de novembro de 2008




O coração, todo mundo sabe,

fica bem no meio do peito.

Mas, comigo, a anatomia ficou louca:

sou todo, todo coração.

V. MAIAKÓVSKI





guaches gauches de vania


sábado, 1 de novembro de 2008

O BRASIL DE MARIA DE MEDEIROS

Gamada na terra verde e amarela, a atriz portuguesa, filha de um músico, promove seu disco “A little more blue”, que reúne músicas de Chico, Caetano, Ivan Lins, Gil e Dolores Duran. O show foi apresentado no Teatro do Sesc Pinheiros, no encerramento do Festival de Cinema de SP e rola em edição pocket em Ipanema, dia 4 de novembro.

No currículo desta interessante atriz estão filmes bacanas como Pulp fiction (1994) e agarrações com atrizes bonitas (só nos filmes, claro) em Henry & June (1990) e Riparo (2007).

No site da gaja dá pra conferir um pouco do show e um tira-gosto do disco: http://www.mariademedeiros.net/.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

PATTI SMITH: DREAM OF LIFE
Festival de Cinema do Rio

Documentário de Steven Sebring, exibido no Festival do Rio, acerta em cheio ao deixar de lado o estilo tradicional que marca boa parte dos documentários musicais, que se limitam a mostrar a progressão de fatos marcantes da carreira dos artistas. Aqui vemos Patti Smith listando, logo nos primeiros minutos do filme, os episódios mais importantes de sua vida, enquanto desfilam na tela paisagens bonitas em P&B.

Foi uma boa tirada, que deixou o filme livre para retratar a força artística da poetisa do punk, sem se amarrar a seqüências históricas e, principalmente, sem os chatíssimos depoimentos de figuras importantes lambendo a estrela. O filme foi também bastante honesto em não abusar da adoração dos fãs e, por conta disso, nada de cenas de shows arrebatadores, com o público entrando em catarse...

Acompanhamos Patti Smith, ao longo dos 10 anos consumidos nas filmagens do documentário, visitando o túmulo dos poetas que tanto influenciaram sua música e recitando incansavelmente Rimbaud, Burroughs e Ginsberg nos palcos, ou em seu quarto, pequeno e sempre desarrumado pelos livros, fotografias e instrumentos espalhados. Podemos vê-la visitando os pais ou inflamando seus discursos contra Bush, ou, ainda, revelando que deseja tocar as telas quando visista museus (e que foi pega de primeira, tentando tocar em um Modigliani).

Melhor do que ser assombrada pela grandiosidade histórica de alguém que fez tanto pelo rock, é saber que esta adorável poetisa começou a escrever por uma necessidade "física" de ver as palavras escritas. Filmaço, lírico, espiritual e generoso o bastante para não fechar definições. Bem à altura de quem retrata.



sábado, 4 de outubro de 2008

BI THE WAY
Festival de Cinema do Rio

Documentário de Brittany Blockman e Josephine Decker, com música e edição espertas, traça um painel interessante da fluidez das experiências sexuais na atualidade. As diretoras partiram de uma questão que não tem resposta em nossa época: bissexualidade é moda passageira ou uma nova revolução sexual? Os comentários dos entrevistados, é claro, foram diversos e, pra variar, ninguém quis saber de ser rotulado como bi, hetero ou gay. As identidades sexuais, nos tempos modernos, parecem trazer um tremendo desconforto para as pessoas, que disso vivem fugindo como o diabo da cruz.

Reunindo depoimentos interessantes dos quatro cantos dos EUA, e vendo pessoas das mais diferentes classes, credos e faixas etárias tão à vontade (e até orgulhosas) em não se identificar c
om qualquer categoria, as diretoras concluíram que uma grande transformação está em curso, alterando de modo definitivo o modo como as pessoas se expressam sexualmente.

Well, tenho cá minhas dúvidas se tanta fluidez é atributo de alguma revolução sexual. Acho que alguém acertou em cheio quando comentou no documentário que o beijo de Britney e Madonna não começou, nem inventou nenhuma moda, apenas colocou um espelho diante da sociedade, refletindo o que já estava acontecendo entre as pessoas. São tempos líquidos (como dizem os pensadores) e o sexo é reflexo disto.


segunda-feira, 29 de setembro de 2008

QUESTÃO DE ORGULHO

O filme CELIA, A RAINHA foi, acima de tudo, um filme sobre o orgulho cubano. Pouco concentrado em informações sobre a carreira da cantora, colecionou depoimentos apaixonados de fãs, especialmente de cubanos privados por décadas de sua música, banida da ilha pelo regime muy democrático de Fidel. Radicada nos EUA, Celia pôde espalhar sua música feliz pelo mundo. Pelo que pudemos ver nas cenas da cantora no palco e em entrevistas, ela incorporava com muita autenticidade a crença nas boas vibrações da música e assim conseguiu, mesm
o longe das rádios, manter-se perto dos corações cubanos.

E por falar em orgulho, foi o que mais se viu na sessão de sábado à noite no Odeon, lotadíssima para o filme PALAVRA (EN)CANTADA. Coleção de depoimentos muito criativos de cantores, compositores e estudiosos da MPB, o filme arrancou aplausos e expressões emocionadas da platéia, que não quis saber de economia na hora de mostrar sua admiração pela música brasileira. Foi daquelas sessões memoráveis: filme bacana, cinema cheio e platéia reag
indo em sintonia, com direito a torcida organizada para Chico, Lenine, Tom Zé e companhia.



sábado, 27 de setembro de 2008

VIVA A MÚSICA!

O Festival do Rio, neste ano, está recheado de filmes que têm a música como mote central. Os documentários ganham uma mostra à parte, a MIDNIGHT SONGS, registrando os trabalhos de Patti Smith, Joe Strummer, Neil Young, Anita O'Day, Arthur Russell e Philip Glass.

A Premiére Brasil tem ainda os documentários sobre as Cantoras do rádio, Jards Macalé, Wilson Simonal, Arnaldo Batista e Titãs, além do filme de Helena Solberg, "Palavra Encantada", que conta com depoimentos de vários artistas da MPB.

Já a mostra Retratos traz curtas sobre Miltinho, Pixinguinha, Vinícius e Remo Usai.

É bom ficar de olho também em "Favela On Blast", "Contratempo", "Canção de Baal", "Café dos Maestros", "Os roqueiros esquecidos do deserto" e "África Unite".

E hoje ainda tive uma grata surpresa com "O Visitante", de Tom McCarthy. Bonito e denso, sem ser chato, o filme narra a amizade entre um professor entristecido pela solidão e um imigrante ilegal da Síria, fortemente unidos pelo amor a música e fatalmente separados pela paranóia americana. A música é personagem à parte no filme, que tem Fela Kuti na trilha e cenas que dão uma pequena mostra do poder do tambor. Imperdível.

domingo, 21 de setembro de 2008



FESTIVAL DO RIO 2008 - MOSTRA GAY


Filmes de interesse lés do Festival do Rio 2008:

O NOVO MUNDO / "LE NOUVEAU MONDE" , DE ETIENNE DHAENE - FRANÇA (2007) / 90min.
Em Paris, o casal Lucie e Marion decide ter um bebê e têm de enfrentar todos os dilemas que envolvem este novo modelo de família: a decisão de como pôr em prática o desejo, a interferência de amigos e de familiares e as formas de relacionamento com o pai da criança.
Terça 30: Palácio 2, 14 hs e 19 hs / Quinta 2: cine Glóira, 20:30 hs / Sábado 4: Estação Botafogo 3, 23:30 hs.

CORAÇÕES DE MULHER / "WOMAN'S HEART, DE KIFF KOSOOF - ITÁLIA/85min.
Zina, uma italiana descendente de marroquinos vai se casar com um árabe rico em Turin. Entretanto, velhas tradições colocam um empecilho na relação: ela não é mais virgem. Para que o casamento não seja cancelado, Zina parte com sua amiga, a travesti Shakira, para Casablanca em busca de uma cirurgia de restauração.
Terça 30: Estação Botafogo 1, 24 hs / Quinta 2: Palácio 2, 16:10 hs e 20:10 hs / Sábado 4: Estação Barra Point 1, 18:00 hs.

"BI THE WAY", DE BRITTANY BLOCKMAN E JOSEPHINE DECKER- USA (2008) / 88 min.
Intrigadas com o grupo cada vez mais numeroso de pessoas que se declaram bissexuais, pansexuais ou "sem rótulos" na América, Brittany Blockman e Josephine Decker criaram um documentário a partir de entrevistas feitas em diversas partes dos Estados Unidos, para investigar se esta onda chega a configurar uma mudança social ou se não passa de uma moda sem maiores conseqüências na vida de quem a experimenta.
Sábado 27: Estação Botafogo 1, 24 hs / Estação Barra Point 2, 13 hs e 22:30 hs / Quarta 1: Cine Glória, 20:30 hs / Segunda 6: Palácio 2, 14 hs e 18 hs.

ASSIM ME DIZ A BÍBLIA / "FOR THE BIBLE TELLS ME SO", DE DANIEL G. KARSLAKE - USA (2007) / 95min.
O documentário acompanha as vidas de cinco famílias cristãs que possuem filhas lésbicas ou gays. Alternando depoimentos destes familiares com depoimentos de teólogos, o filme investiga o modo como pessoas religiosas lidam com a homossexualidade nos dias atuais.
Terça 30: Palácio 2, 16:30 hs e 21:45 hs / Quinta 2: Estação Botafogo 1, 24 hs / Domingo 5: Cine Glóira, 20:30 hs.

Fora da mostra gay, rola o documentário Patti Smith: Dream of Life, de Steven Sebring.

O Festival vai até 09/10/08. Os ingressos são vendidos o hall do Espaço de Cinema (Voluntários da Pátria, 35, Botafogo) e também pelo site www.ingresso.com

Acompanhe as resenhas dos filmes ao longo do Festival neste blog.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

NOVO FILME DE DEEPA MEHTA

DEEPA MEHTA, diretora de Fire (1996), estréia seu novo filme “Heaven on Earth” no Festival de Toronto. A história aborda a situação de violência doméstica, acompanhando a história da imigrante Chand (Preity Zinta), que muda-se para um subúrbio de Toronto, após casar-se com Rocky Grewal. O casamento revela-se uma violenta rotina de abusos verbais e físicos, cometidos pelo marido violento e por outros membros de sua família. Suspeita de infidelidade, ela é forçada a cumprir um ritual conhecido como o “teste do fogo” para provar sua inocência.

FONTE: http://www.indiewire.com/


domingo, 31 de agosto de 2008


AS ÚLTIMAS DO CIRCUITO NACIONAL – PARTE II


Do Outro Lado, de Faith Akim, é um bonito filme que entrelaça de modo tocante as vidas de pessoas ora unidas, ora separadas por códigos culturais. Nejat e seu pai são imigrantes turcos que têm uma relação perturbada pelo fato de que Nejat foi criado sob a cultura alemã e está mais próximo dos valores ocidentais do que daqueles que seu pai ainda sustenta. A estúpida morte da prostitua Yeter abala de vez as vidas dos dois e leva Nejat de volta à Turquia, em busca de Ayten, a filha de Yeter, com quem esta há muito não falava.

Entretanto, Ayten, ativista estudantil, está a caminho da Alemanha, onde entra ilegalmente para escapar da perseguição da polícia turca. Na Alemanha, ela se envolve Lotte, jovem sonhadora que tem um relacionamento turbulento com a mãe. Ayten e Lotte se apaixonam e quando Ayten é deportada para a Turquia, Lotte vai atrás dela. Na Turquia, outro gesto estúpido provoca o rompimento desta relação. A mãe de Lotte também parte para a Turquia em busca da filha e acaba conhecendo Nejat.

A relação entre as meninas rende uma parte muito interessante do filme, mas é tragicamente interrompida, em mais uma daquelas histórias em que relação entre mulheres não dura muito tempo. A homossexualidade, porém, não é o fator que determina o destino dos personagens. A extrema violência que se abate sobre Ayten e Lotte não está ligada a sua condição homossexual. O filme trata de outras diferenças que provocam desigualdades e distanciam as pessoas, mesmo quando estão lado a lado em uma mesma sala e, principalmente, de sentimentos capazes de aproximá-las, mesmo quando estão em países diferentes. De modo surpeendente, a história explora as possibilidades e as fragilidades das relações entre personagens tão perto e tão longe uns dos outros.

DO OUTRO LADO (Auf der anderen Seite)
Turquia / Alemanha / Itália – 2007 – 122 min.
DIREÇÃO: Faith Akin
ELENCO: Nurgül Yesilçay (Ayten/Gül), Baki Davrak (Nejat Aksu), Tuncel Kurtiz (Ali Aksu), Hanna Schygulla (Susanne Staub), Patrycia Ziolkowska (Charlotte 'Lotte' Staub), Nursel Köse (Yeter/Jessy)
O filme ganhou 17 prêmios, dentre eles o de melhor roteiro em Cannes

domingo, 17 de agosto de 2008

AS ÚLTIMAS DO CIRCUITO NACIONAL – PARTE I

ONDE ANDARÁ DULCE VEIGA?
Brasil (2007)· 135 min.
DIREÇÃO: Guilherme de Almeida Prado
ROTEIRO: Guilherme de Almeida Prado (baseado no livro de Caio Fernando Abreu, “Onde Andará Dulce Veiga?”)
ELENCO: Maitê Proença (Dulce Veiga), Carolina Dieckmann (Márcia), Eriberto Leão (Caio), Nuno Leal Maia (Rafic), Carmo Della Vechia (Raudério), Cacá Rosset (Castilhos)
SINOPSE: A história acompanha o jornalista Caio (Eriberto Leão) que, nos anos 80, tenta descobrir o paradeiro de Dulce Veiga (Maitê Proença), atriz e cantora de sucesso desaparecida desde os anos 60. Ao longo de sua jornada, conhece Márcia (Carolina Dieckmann), a filha de Dulce, e se apaixona por ela.

Não sei não, mas este filme parece um pouco cheio de planos para transgredir, mostrando a Carolina Dieckemann seminua, na pele de uma rrriot girrrrl, revoltadona, lésbica, atirando pedras em quem passa pelo seu caminho. Tem também um beijo gay entre atores gatos. Alguma ousadia no visual, narrativa pouco linear e história baseada na obra do cultuado Caio Fernando de Abreu.

A ficha para mim, entretanto, não caiu. O filme não me provocou nem um pouco, nenhum personagem me comoveu, nenhuma saga me fez remexer na cadeira. Não senti nada e acabei achando tudo muito chato. A Márcia de Carolina não disse a que veio. Pelo menos do modo como foi mostrada no filme, pareceu mais uma gatinha assustada fingindo ser casca-grossa. Caio, embora tenha se lançado em uma jornada em princípio tão interessante, atrás da misteriosa Dulce Veiga, foi muito pouco convincente. Ele não parece estar pessoalmente envolvido naquela busca. Sua expressão facial, a mesma durante todo o filme, nos faz crer que está executando uma de suas tarefas rotineiras.

Bem, dizem por aí que o filme é ousado demais, destinado ao culto de poucos. E como é cheio de mergulhos na imaginação do jornalista, se presta àqueles comentários igualmente herméticos (“uma ode à transposição entre o real e o imaginário...”). Outros o acusam de pôr tudo a perder com um final novelão, com Dulce Veiga discursando um textinho de auto-ajuda e beijinho de encerramento. Carolina Dieckman dando um passa-fora na namorada para entrar na linha ao lado de Caio pode ferir sensibilidades. Ah, sim, pode ser que o encontro dos dois no final seja mais um mergulho na imaginação do jornalista. Ai, ai, essas transposições entre o real e o imaginário...

Mas filmes que dividem platéias são assim mesmo, deixam uma única alternativa: só vendo para escolher o seu lado.




segunda-feira, 28 de julho de 2008


STRAWBERRY PANIC!, A ESCOLA DE LESBOS

A história de Strawberry Panic! se passa no monte Astrea, onde existem três escolas exclusiva para meninas (Miator, Sppica e Lili) e vários espaços comuns de interação, como os “dormitórios morango”.

Entre as atividades escolares e o aprendizado de rituais sociais, as meninas experimentam o despertar afetivo e sexual. Além das paixonites agudas, canalizam as atenções as disputas políticas pelas posições mais prestigiadas das escolas. No cerne da trama está a estrutura das eleições para representante das três escolas, cargo mais cobiçado e que é desempenhado sempre por um casal. Na formação dos pares candidatos, os critérios políticos se chocam com os afetivos, deixando muita gente de coração partido...

A tônica da relações é bem mais romântica do que sexual, embora todos os casais tenham seus momentos mais ou menos explícitos. Afinal, são muitos quartos partilhados a duas e campos isolados ao redor das escolas para as meninas aproveitarem a vida. Os adultos quase não entram em cena e personagens masculinos, nem sombra deles...

As coisas, entretanto, se desenrolam em um tempo oriental, bem devagar, quase parando. Nos primeiros episódios predominam os subtextos, as personagens ficam se perguntando o que estão sentindo e só lá pelo episódio 12 (são 26 ao todo) é que as relações vão se caracterizar mais claramente, ficando mais explicitados os interesses amorosos e políticos das personagens.

Há casais de todas as praias na série, uns fazendo o estilo “príncipe encantado e princesa gentil”, como Amane e Hikaro, outros compostos por garotas glamourosas (Shizuma e Nagisa), além do casal pérfido formado por Kenjou e Momoni. Correndo por fora, há o drama das garotas que sofrem com amores não correspondidos.

No começo, achei curiosíssimo aquele ambiente onde todas são socializadas na aceitação (e na prática) da homossexualidade. O amor por outra mulher é o caminho “natural” ali, invertendo totalmente a lógica que obriga à heterossexualidade. A personagem central, Nagisa, testou minha paciência com seus fricotes, mas depois acabei me envolvendo nos dramas pessoais e nos segredos tristes, de partir os corações sensíveis, que vão se revelando nos episódios. Bem, se eu assisti a todos os 26 e ainda achei o final KAWAI, nem posso disfarçar dizendo que foi “a trabalho”...

Bem levinho, para se distrair à tarde, cheio de cenas fofas à luz do luar. Trama como nas novelas, mas sem censura a beijos lésbicos.

"Strawberry Panic!" (Sakura no oka, 2006)

DIREÇÃO: Masayuki Sakoi
Sakurako Kimino (novel)
Tatsuhiko Urahata (script)
26 episódios


Vale dar uma olhadinha em:

http://www.animescenter.com/

http://ahyuri.org/

quarta-feira, 23 de julho de 2008

MANGÁS E ANIMES LÉSBICOS


Por conta das pesquisas para escrever sobre o filme LOVE MY LIFE no site, acabei descobrindo um bando de coisas YURI por aí. O termo é utilizado para descrever desenhos japoneses com temas lésbicos, podendo incluir tanto os mangás (histórias em quadrinhos) quanto os animes (filmes e séries de animação).


O termo YURI às vezes aparece como sinônimo de SHOUJO-AI, mas os especialistas no assunto preferem reservar o termo Yuri para os desenhos cujas histórias abordam as relações lésbicas de modo mais explícito, enquanto o termo Shoujo-ai fica aplicado àquelas histórias de cunho mais romântico e idealizado entre meninas que, boa parte das vezes, nunca chegam a se definir como um relação de fato.


Desenhos japoneses têm uma incrível legião de admiradores e uma extensa produção que se subdivide em várias categorias, que contemplam os mais variados gostos. Sobre o filão YURI / SHOUJO-AI, alguns dos mangás e/ou animes mais comentados por aí são:


- STRAWBERRY PANIC! (2006), de Sakurako Kimino

- SIMOUN (2006), de Junji Nishimura

- REVOLUTIONARY GIRL UTENA (1996), de Chiho Saito

- MARIA-SAMA GA MITERU (2004), de Oyuki Konno

- FREE SOUL (2004), de Ebine Yamaji (de LOVE MY LIFE)

- SAILOR MOON (1992), de Naoko Takeuchi

- RICA 'TTE KANJI!? (2004), de Rica Takashima

- RAGNAROK CITY (2001), de Satoshi Urushihara

- ROSE DE VERSAILLES (1972), de Ryoko Ikeda

- SHIROI HEYA (1971), de Ryoko Yamagishi


O mais próximo que tinha chegado até então desta produção tinha sido por meio de um anime que passava por aqui nos anos 70, chamado A princesa e o cavaleiro. A história atraiu minha atenção, contando a saga da princesa Safiri que, por conta da trapalhada de um anjo, nasceu com dois corações, um de menino e outro de menina.


Nos tempos em que eu via o desenho, não sabia bem como organizar minha percepção, mas me fascinava bastante aquele negócio de menina que fazia papel de menino e que ainda atraía a atenção de outra garota. Realmente, eu acompanhei a série com um interesse pra lá de especial e nunca, mas nunca mesmo, fixei o detalhe de que, no final da história, Safiri acabava ficando com um príncipe caretão (porém com os dois corações). Hoje reconhecido como um clássico, este desenho era originalmente um mangá criado por Osamu Tezuka em 1954, tendo sido transformado em anime em 1967. Foi um marco na criação de desenhos voltados para o público feminino, chamados shoujo. O shoujo-ai é uma espécie de variante desta produção.


Li alguns textos que afirmaram que a história de Safiri nada tinha a ver com metáforas de bissexualidade, estando mais no contexto de personagens que assumem identidades masculinas para ganhar espaço em uma sociedade machista. Personagens femininas que subvertem gêneros também aparecem nas histórias de Rose de Versailles e Revolutionary Girl Utena.


Lendo críticas e fóruns mundo virtual afora, vi que o público é bastante grande para este tipo de produção, mas há quem ache que boa parte dela é exploração de conteúdo lésbico (às vezes limitando-se a meras insinuações) para leitores que nada têm a ver com o lance, principalmente pela sucessão de personagens jovens e bonitinhas que ainda estão na escola. Para tirar minha prova dos nove, assisti à saga completa de STRAWBERRY PANIC!, um anime yuri que comentarei no próximo post.



PARA SABER MAIS:


http://www.animescenter.com/

http://www.afterellen.com/archive/ellen/Print/2005/8/yuri.html

http://www.shoujohouse.clubedohost.com/Shoujo/ribon.html

http://www.shoujo-cafe.blogspot.com/

http://ahyuri.org/

www.yuricon.org/




terça-feira, 22 de julho de 2008

CINECLUBE LGBT

A segunda edição do evento acontece dia 25/07/08, às 21:00 hs, com sessão especial em homenagem ao escritor CAIO FERNANDO DE ABREU. Filmes:

- Dama da noite (1998), de Mario Diamante
- Sargento Garcia (2000), de Tutty Gregianin
- Aqueles dois (1985), de Sérgio Amon

Cine Odeon, Praça Floriano, 7, Cinelândia, RJ
R$10,00 (inteira) e R$5,00 (meia)
Após as sessões, festa com o DJ Great Guy
www.cineclubelgbt.com.br

domingo, 13 de julho de 2008

MÍDIA E HOMOSSEXUALIDADE

Começou dia 8 e vai até 20 de Julho, na Caixa Cultural RJ, o evento A HOMOSSEXUALIDADE NA MÍDIA: O QUE MUDOU?, que discute as transformações no modo como a homossexualidade vem sendo representada na mídia. O evento conta com uma mostra de cinema e de seriados de TV, em conjunto com um ciclo de debates.

O filme Aimée e Jaguar será exibido nos dias 16 (19:30hs), 19 (15hs) e 20 (19hs) de Julho na etapa carioca do evento. É uma boa oportunidade de ver um filme bacana e bem difícil de achar por aí.


CAIXA CULTURAL RJ
Av. Almirante Barroso, 25, Centro, Rio de Janeiro
Tel: (21) 2544-4080

Em São Paulo,o evento começa dia 15 e vai até 20 de julho
CAIXA CULTURAL SP
Praça da Sé 111, São Paulo
Tel: (11) 3321-4400

Entrada Franca
Programação completa disponível em: www.caixacultural.com.br

sexta-feira, 11 de julho de 2008

SEMANA DA DIVERSIDADE SEXUAL

A semana da diversidade sexual exibida pelo canal a cabo GNT em Junho teve como ponto alto a entrevista da Desembargadora MARIA BERENICE DIAS no programa Marilia Gabriela Entrevista. Maria Berenice criou o termo homoafetividade, para ressaltar os vínculos de afeto contidos nas relações homossexuais e que permanecem invisíveis aos olhos da sociedade. As leis existentes no Brasil, segundo a Desembargadora, estão bem longe de proteger tudo aquilo que estas relações afetivas são capazes de construir. Sua luta é para que os pares homossexuais, ao desenvolverem vínculos afetivos, alcancem o abrigo do direito de família. Por isso sua máxima: “o afeto é uma realidade digna de tutela”.

No SAIA JUSTA, as meninas mostraram uma interessante matéria com depoimentos de habitantes de uma ilha na Nicarágua, um verdadeiro rincão de preconceitos contra homossexuais. Após a matéria, fizeram a crítica correta ao senso comum atrasadinho nicaragüense, mas deixaram passar no restante do programa idéias pra lá de questionáveis, como “andar de mãozinha dada é coisa de mulher”, “mulher gosta de receber flores”, além de endossarem, sem a menor cerimônia, a velha idéia de que mulheres são seres histéricos. Sei que o programa é muito querido pela galera, mas há tempos que venho percebendo que nem a Márcia Tiburi, com toda sua razão crítica, consegue fazer frente ao festival de senso comum das outras apresentadoras, sempre reafirmando as tais “coisas de mulheres”.

Rolou também a edição especial do programa SUPERBONITA, falando de padrões de beleza GLS. Aliás, padrões não, o que se viu foi uma defesa da “feminilidade” da mulher lésbica. “Mulher tem que ser mulher sempre”, afirmou categoricamente uma moça no programa. É bem bacana que as pessoas tenham vários modelos nos quais se espelhar e sejam livres para escolher aquele que mais lhe agrada. Conforme a homossexualidade vai saindo dos guetos, a tendência é que os modelos se diversifiquem mesmo. E que viva a diferença, pois desde que nenhum destes modelos venha para se tornar regra, todas as alternativas serão muito bem-vindas.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Mais uma contribuição de nossa querida autora irresponsável, Safo:

Eu sinto

Sinto a sua mão
Tocar minha alma
Sinto a palma de seu sorriso
Fazer cócegas em meu coração de vidro

Sinto os seus cabelos
Seus fios são como ondas revoltas
Sinto sua discreta figura em meio à turba
Convidar-me a bailar no centro do furacão

Sinto a sua dor
Suas lagrimas de pessoa humana cansada e bondosa
Sinto sua insistência:
Um Viva para a Vida, apesar da vida.

Sinto, oh Amor
Sua esperança e os mais lindos sonhos

Autoria Irresponsável de Safo, A Poeta

domingo, 29 de junho de 2008

Uma amiga ficou muito triste com a morte da antropóloga Ruth Cardoso e escreveu este texto em sua homenagem:

UMA BRASILEIRA ILUSTRE

Por Rosana Gonçalves

"Combater a pobreza é fortalecer as capacidades das pessoas e os recursos da comunidade" Ruth Cardoso (1930-2008)


Dona Ruth Cardoso tinha cara séria, de professora exigente e brava. Era vista fazendo compras nos supermercados da região de Higienópolis.... escolhendo verduras e legumes.

Sua autenticidade e seus valores deixavam-se além das tendências de moda ou das imposições da mídia. Resistiu bravamente e até o fim não compactuou com a mistura entre o público e o privado.

Trabalhou muito em grupo. Não há registros de que tenha tirado vantagem da posição política que possuía para alavancar projetos que lhe dessem brilho próprio.

Doutora em Antropologia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (USP). Como docente e pesquisadora atuou em várias instituições, como a USP, Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais (Flacso/Unesco), Universidade do Chile, Maison des Sciences de L´Homme (Paris), Universidade de Berkeley e Universidade de Columbia. Foi membro associado do Center for Latin American Studies da Universidade de Cambridge e membro da equipe de pesquisadores do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap). Publicou vários livros e trabalhos sobre imigração, movimentos sociais, juventude, meios de comunicação de massa, violência, cidadania e trabalho. Presidiu o Conselho do Programa Comunidade Solidária, ativo no período de 1995-2002. Em 2000 criou a Comunitas, uma organização da sociedade civil de interesse público, responsável pela garantia da continuidade dos programas gerados pela Comunidade Solidária, onde atuou até sua morte.

Deixa-nos imenso legado. Em seu exemplo de vida sobressai a virtude da persistência, traço marcante de seu caráter... uma brasileira ilustre que fica em nossa memória coletiva, pois "o que brilha com luz própria, nada pode apagar...". O trecho a seguir mostra traços de sua clareza intelectual, conjugada à sua luta em seu trabalho diário:

"Na maioria dos programas que buscam a focalização, os pobres constituem um segmento definido por critérios estatísticos, o que não define um ator social, mas sim um grupo heterogêneo que tem em comum um mesmo nível de renda. Por esta razão as ações de combate à pobreza que partirem deste tipo de focalização não contarão com interlocutores participantes, capazes de mobilizar identidades comunitárias. Como conseqüência, os projetos de desenvolvimento social dirigidos aos mais pobres podem e devem se inspirar no modelo das ações afirmativas, mas devem estar cientes de que a participação não decorre da focalização.

Localizados os pobres e feitas as doações, não aparecerá, como conseqüência, uma resposta espontânea destes indivíduos em apoio aos incentivos oferecidos. Pelo contrário, para ser incluído no mercado, quer como consumidor quer como trabalhador, é preciso ir além da superação da fome, da doença etc. É preciso desenvolver auto-estima, capacidade de comunicação e, ainda, confiança em seus saberes e em sua capacidade de aprender. Estas qualidades existentes em comunidades de pouca renda são mais fáceis de serem generalizadas quando há envolvimento coletivo e quando o grupo que está recebendo atenção se transforma em protagonista de sua mudança. Quando isso acontece, são capazes de definir as ações afirmativas que podem ser eficientes em cada contexto”.

RUTH CARDOSO - “Sustentabilidade, o desafio das políticas sociais no século 21", disponível em http://www.comunitas.org.br/

sexta-feira, 27 de junho de 2008

ESTRÉIAS NO CINEMA

Apesar do atraso, chegam às telas dois filmes muito bacanas:

AS FILHAS DE CHIQUITA
Brasil (2006) – 52 min.
DIREÇÃO: Priscila Brasil

Documentário de Priscila Brasil mostra uma festa gay que ocorre logo após a passagem da tradicional procissão do Círio de Nazaré, em Belém, no segundo domingo de Outubro. Dando voz aos participantes desta interessante festa, o filme foi muito bem recebido no Festival de Cinema do Rio de 2006 e também no 14º Festival Mix Brasil. O canal a cabo GNT dá uma tremenda canja, exibindo o documentário dia 29/06/08 à 0h30min.

POR ONDE ANDARÁ DULCE VEIGA?
Brasil (2007) – 105 min.
DIREÇÃO: Guilherme de Almeida Prado
Roteiro baseado em romance de CAIO FERNANDO DE ABREU

Enquanto um jornalista sonha em recuperar a imagem de uma cantora da MPB misteriosamente desaparecida, chamada Dulce Veiga (Maitê Proença), a filha desta, cantora de rock e lésbica (interpretada por Carolina Dieckmann), sonha em se desvencilhar da imagem da mãe.

domingo, 22 de junho de 2008

SEMANA DA DIVERSIDADE SEXUAL NA TV A CABO

O canal a cabo GNT apresenta de 22 a 29 de Junho a SEMANA DA DIVERSIDADE SEXUAL, com vários programas voltados para o público GLS.

Na madrugada de 22 para 23 (01:59 hs) rola o documentário MEU MARIDO É GAY, reprisado dia 23 às 11:00 hs.

Dia 24, à meia-noite, rola a série CASAIS MODERNOS, sobre casais gays com filhos.

Dia 25, às 22:30 é vez do SAIA JUSTA levar ao programa quatro pessoas que já tiveram experiências homossexuais.

Dia 27, às 22:00 hs, tem o especial GLS do programa SUPERBONITA, abordando padrões de beleza entre mulheres homossexuais.

FONTE: Jornal O GLOBO, Revista da TV de 22 de Junho de 2008.
Site GNT: globosat.globo.com/gnt/

quarta-feira, 18 de junho de 2008

CINECLUBE GLBT NO ODEON

Nesta sexta (20/06/08) às 21 hs, rola a primeira edição do CINECLUBE GLBT, no cinema ODEON, Rio de Janeiro. Estão programados os seguintes curtas:

-
PÁGINAS DE MENINA (2008), de Monica Palazzo
-
BÁRBARA (2006), de Carlos Gradim
-
MEU CÃO ME ENSINA A VIVER (2007), de Filipe Moura
-
(2007), de Felipe Sholl
-
ALGUMA COISA ASSIM (2006), de Esmir Filho
-
O DIÁRIO ABERTO DE R. (2005), de Caetano Gotardo

CINEMA ODEON PETROBRAS - Pça Floriano, 7, Cinelândia, RJ.
R$10 (inteira) e R$5 (meia).
Depois da sessão tem festa comandada pelo DJ Great Guy.

Mais informações em:
http://cineclubeglbt.blogspot.com/

sexta-feira, 13 de junho de 2008


DESTA VEZ, A CULPA NÃO FOI DO MARILYN MANSON

No começo deste mês, 4 jovens da Igreja Evangélica Geração Jesus Cristo depredaram o Centro Espírita Cruz de Oxalá, localizado no Catete-RJ. Afirmaram as testemunhas que os jovens quebraram todas as imagens e utensílios que estavam no local e insultaram os fiéis, gritando para que estes “abandonassem o demônio”.

Encaminhados à delegacia, os 4 foram liberados após o depoimento, mas serão chamados para audiência em Juizado Especial Criminal. O pastor da Igreja limitou-se a dizer que ficou surpreso com a atitude dos jovens, afirmando que sua igreja não incentiva qualquer tipo de agressão a outras religiões.

Ainda bem que, desta vez, nenhum especilista pôde correlacionar tal inconseqüência juvenil com jogos de videogame, internet, rock pesado e filmes como “Matrix”.

Sendo assim, por que não investigar outras correlações?

Embora seja até irresponsável acusar qualquer Igreja de incentivar diretamente uma violência como esta, nunca é demais refletir sobre o discurso cheio de dogmas e de senso de superioridade religiosa que Igrejas como esta propagam.

Se como disse aquele “Profeta”, gentileza gera gentileza, então intolerância deve gerar...

PS: Segue um pequeno texto que vem bem a calhar para pensar sobre o assunto:

O ETNOCENTRISMO


A cultura interfere de forma significativa no modo como as pessoas vêem o mundo, já que os conceitos acerca do que é certo ou errado, verdadeiro ou falso, regra ou aberração, dependem dos sistemas de valores e de normas próprios de cada cultura. A ocorrência da grande diversidade de culturas vem testemunhar que há modos de vida bons para um grupo e que jamais serviriam para outro. Entretanto, não temos muita consciência deste fato e adotamos a postura do etnocentrismo, que nos faz supervalorizar nossa própria cultura, rejeitando as demais.

Todos nós somos portadores, em alguma medida, desse sentimento, porque sempre julgamos outras culturas a partir dos moldes de nossa própria. Quando julgamos outras culturas como “aberrantes”, “atrasadas” ou “inferiores”, estamos julgando-as segundo os padrões que a nossa cultura considera corretos, recusando o que representa, aos nossos olhos, um desvio destes padrões.

A postura do etnocentrismo pode ser positiva no que diz respeito à valorização do próprio grupo, mas também pode resultar em comportamentos agressivos, em atitudes de superioridade ou até mesmo de hostilidade contra diferenças. A discriminação e a agressão verbal são outras formas de expressar o etnocentrismo, que tornam muito difícil a convivência de pessoas de sociedades ou de grupos diferentes.

FONTE: MARCONI, Marina de Andrade. Antropologia: uma introdução. São Paulo: Atlas, 1998.


domingo, 1 de junho de 2008



AS PALAVRAS E AS COISAS
Parada Gay de SP 2008

Não estive na Parada Gay de São Paulo, mas andei lendo a cobertura do evento, e me chamou a atenção a matéria que saiu segunda-feira (26/05) no jornal O Globo. Acabei desviando totalmente a minha atenção da Parada para a forma como ela foi descrita pelo jornal: “Parada Gay atrai 3 milhões à avenida paulista. Evento, que contou com a presença do prefeito Gilberto Kassab e da ministra Marta Suplicy, foi marcada por tumultos”.

Os tumultos em questão são explicados logo no primeiro parágrafo: furtos de celulares e máquinas (!), bebedeiras (!!!) e consumo de drogas (!!!!).

Não sei como alguém pode dizer que furto, uso de álcool e consumo de drogas “marcam” qualquer evento, quando tais coisas já invadiram esta e outras cidades brasileiras (e já faz um bom tempinho...).

Com tantas coisas a serem destacadas em um evento desta magnitude, o repóter preferiu descobrir a pólvora e ainda concedeu em sua matéria uma coluna destacada para uma importante celebridade. Não a ministra, nem o prefeito, nem qualquer liderança do movimento gay, mas sim o xaveco do momento de Ronadinho, Andréia, que em sua entrevista prestou informações de EXTREMA utilidade pública.

A matéria ocupou espaço de cerca de meia página na seção O PAÍS, mas sem qualquer chamada na primeira página, que tinha, é claro, coisas mais importantes das quais se ocupar, como o empate de 1 a 1 entre Botafogo e Vasco.