sábado, 24 de novembro de 2007

BEM-ME-QUER-MAL-ME-QUER


Invente uma porta

Chame um táxi

Ou vá rolando

Só volte se ouvir

Eu discursar em desatino

(e com a boca toda torta)


Só pra garantir,

Tome a escova de dentes

E leve os filmes do Fellini

Não se preocupe, a gente se vê

Quem sabe no Fla-Flu

(Em frente à estátua do Bellini)


Se me descontar a mesquinhez

Eu posso te dar um conselho

Se doer

Funciona, eu garanto

feche os olhos e cante

(“O sol há de brilhar mais uma vez...”)


Mas se apresse, ande, se adiante

Antes que a imagem me alcance

Você, linda, rodopia

Se entregando a braços outros

Desconjuro!

(É pior que endoscopia)


Por Zelig, Novembro 2007.


terça-feira, 20 de novembro de 2007

FESTIVAL MIX BRASIL


Em Novembro começa o 15 Festival Mix Brasil de Cinema e Vídeo da Diversidade Sexual, que ocorre em São Paulo, Porto Alegre, Rio de Janeiro e Brasília.

É a chance de ver filmes que dificilmente entrarão em circuito ou serão lançados em vídeo por aqui. A programação está excelente, principalmente para quem está em Sampa. O Rio de Janeiro, uma pena, ficou de fora da exibição de um monte de filmes importantes e legais, especialmente aqueles que abordam a vida das garotas perigosas. Alguns deles, garimpados da programação oficial, estão listados abaixo, fique de olho:


LONGAS:


-
2 em 1 / Risk, Stretch, or Die
(Saskia Heyden, 2007, Alemanha, 60’)

- Abrigo / Riparo
(Marco Simon Puccioni, 2007, França/Itália, 98’)

- Cantiga do Tic-Tac, A / Tick Tock Lullaby
(Lisa Gornick, 2006, Reino Unido, 73’)

- Friends do Babado / Lez Be Friends
(Glenn Gaylord, 2007, EUA, 70’)

- Fucking Different New York
(Coletivo, 2007, Alemanha, 70’)

- Incrível História do Cinema Gay / Schau Mir In Die Augen, Kleiner
(André Schäfer, 2007, Alemanha, 90’)

- Jihad para o Amor / A Jihad For Love
(Parvez Sharma, 2007, EUA, 81’)

- Lírios D´Água / Naissance des Pieuvres / Water Lillies
(Céline Sciamma, 2007, França, 85’)

- Mundo Maravilhoso das Drags / Drag: not just men in heels
(Amir Jaffer, 2007, EUA, 85’)

- Na Alegria e na Tristeza / Through Thick and Thin
(Sebastian Cordoba, 2007, EUA, 76’)

- A Turminha das Sapinhas de Tetinhas Pequeninas / Itty Bitty Titty Committee
(Jamie Babbit, 2007, EUA, 86’)

- Spider Lillies / Ci-Qing
(Zero Chou, 2007, Taiwan, 94’)

- XXY
(Lucía Puenzo, 2007, Argentina, 86’)

Abrigo, Cantiga do Tic-Toc, Incrível história do cinema gay, Lírios D'água, Jihad de amor e XXY, que passaram no Festival do Rio, estão resenhados nos arquivos de Outubro e Setembro deste blog.


MOSTRA CURTAS MIX BRASIL:

  • Meu Mundo é Esse (7 CURTAS)
  • O Mapa das Minas (4 CURTAS)
  • Pussy Galore (7 CURTAS)

Informações completas em: http://www.mixbrasil.org.br/index.shtml
No Rio de Janeiro, o Festival ocorre de 29 de Novembro a 06 de Dezembro.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007


NADA COMO SOBREVIVER

Estrela por 30 anos. Rainha dos olhos pretos. Siouxsie Sioux está na praça, com Mantaray, fazendo mais uma vez a diferença. Desde o final dos anos 70 dando o seu recado ao lado dos Banshees, manda, e muito bem, o primeiro solo de sua carreira. Amantes do punk, do gótico e do cabaré agradecem.

Balada bacana do disco (mas segure os pulsos): If doesn’t kill you ("aquilo que não te mata/acaba te sacudindo").

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

TIPOLOGIAS

Foi um dia de choro, mágoas e, ainda por cima, estou com a porra da vagina doída.

Eu nem imaginava que ia ser essa dureza toda o dia de hoje. Apesar de que, na semana passada, quando marquei a consulta com o ginecologista, desisti na sala de espera, porque o médico estava muito atrasado. Aquela coisa de direitos do consumidor e tal.

Desta vez aguardei, apesar da demora. Junto com a consulta médica, ganhei uma inesperada sessão de terapia. O doutor é um sujeito simpaticão, gente boa mesmo e acredita sinceramente que é cheio de habilidades com o lado humano. Fácil, fácil reconhecer as técnicas que parecem ter saído de uma péssima leitura de livros de psicanálise. Jogou uns dois ou três papos para “descontrair” enquanto fazia minha ficha, elogiou quando eu respondi que era professora de sociologia e arrematou o assunto com uma série de auto-elogios sobre ser um médico muito “sensível”. Também mandei umas duas ou três letras tentando sugerir que estava consciente da necessidade do exame e que eu não me sentia ameçada por ele. Mas não adiantou. Acho que ele já está ligado no automático há muito tempo e repete as mesmas tiradas com todas as mulheres. Quer dizer, ao menos com as mulheres lésbicas.

Ele não perguntou nada sobre minha vida sexual e eu achei estranho. Mas deixei quieto. E fomos para a posição constrangedora. Eu tenho vaginismo, de modo que aquela merda de “coleta de material” para o preventivo dói para cacete. E desta vez, doeu de verdade, muito além de qualquer frescura. Eu chorei, fazer o que? Sou molenga para enfrentar dores físicas, acho qualquer topada uma descida ao inferno. Mas eu não poderia ter escolhido expressão mais infeliz para essa minha fragilidade, porque a tática de consolo do doutor foi um desastre. De nada adiantou eu dizer que não foi nada e além do mais já tinha passado! Fora aberto o almanaque de terapia breve quase instantânea do sujeito.

Primeiro veio aquela história de “eu sei o quanto é difícil para você”. Disse que eu tinha tido uma ou duas experiências traumáticas com penetração e depois perguntou se podia “falar abertamente” sobre homossexualidade. Como assim, meu caro? Que tipo de paciente esse sujeito deve estar atendendo ultimamente para formar esta idéia das lésbicas?

Eu disse que não havia problema nenhum em falar sobre o assunto e que tinha achado estranho ele não ter perguntado. “Eu já sabia”, ele disse. Ah, sim, saquei. Seu magnífico livro dos estereótipos não falha na detecção de uma lésbica... Que, como todas as outras, é cheia de problemas com homens, foi abusada pelo vovô na infância e nutre verdadeiro pavor de se assumir para qualquer pessoa.

Falou de um “problema muito comum entre vocês”, que é ser vista como o homem da relação, daí a dificuldade com o lance da penetração. Não, senhor, eu respondi, pra mim não é difícil alternar papéis sexuais, eu gosto das mãos da mulheres e também gosto de penetrá-las, se é que eu posso “falar abertamente” com o senhor. Não sei se vou ganhar alguma notinha de rodapé no grande livro de estereótipos do doutor, já que ele deu por encerrado o assunto. Marcou os exames e pediu para eu voltar dentro de um mês. Deixa estar, até lá eu preparo meu discurso.

Para terminar em grande estilo a comédia de erros, o doutor olhou para os dois traços que tenho no rosto, aqueles dois sulcos que algumas pessoas têm em torno da boca, e disse que poderia tirá-los “em 15 minutos” e que também fazia um tipo de intervenção que diminuía os pequenos lábios, uma coisa bem rápida. Doutor, o Sr. não imagina o quanto é uma pessoa sensível! Um verdadeiro arraso...


Por Castella, em 07/11/07.




sexta-feira, 2 de novembro de 2007

NOVO

A mudança chega pouco mansa

Uma onda ronda o desejar

É melhor se acostumar

O descarte é o deleite

nesta reinância

Sem muita pergunta

Nenhum trago de cicuta

O amor sente-se por um triz

É repleto mas também é deserto

Tudo que é estranho está perto

Com outras flores construir novos ramos

Cortar a raiz

Ser visitante de todos os planos

Como se os olhos por inteiro tudo vissem

Estes olhos que nunca padecerão de velhice

Por Zelig, novembro 2007.