domingo, 30 de março de 2008

EU NÃO ESTOU LÁ (I’M NOT THERE)
EUA/Alemanha (2007) – 135 min.
Direção e roteiro: Todd Haynes
Elenco:
Marcus Carl Franklin, Ben Whishaw, Christian Bale, Heath Ledger, Richard Gere, Cate Blanchett, Charlotte Gainsbourg, Julianne Moore.
Site Oficial: www.imnotthere.es

Emocionante este filme de Todd Haynes sobre Bob Dylan, compondo uma visão instigante sobre o artista e produzindo uma peça rara dentre os filmes sobre personas destacadas.

Nos filmes que retratam estas figuras, os cineastas geralmente tentam se ausentar ao máximo de suas narrativas, em prol do compromisso com a biografia que acham que devem retratar. O resultado é sempre um filme para o artista, pela sua grande obra de arte.

Haynes, que também escreveu o roteiro de “I’m not ther”, ficou livre desta síndrome e tascou seu ponto de vista declaradamente pessoal, criativo e apaixonado. Artistas nunca deveriam ser retratados e Todd Haynes nos fez o favor de não retratar Bob Dylan. Mandou no lugar uma bela declaração de amor à música e ao fazer cinema.

De quebra, o filme traz Cate Blanchett, um verdadeiro assombro, boa demais como Dylan (o melhor deles, aliás). Imperdível para amantes de música.

sábado, 22 de março de 2008

Mais uma pesquisa sobre valores e atitudes revela o grau de conservadorismo da sociedade brasileira. Assim como no recente levantamento que resultou no livro A CABEÇA DO BRASILEIRO, os dados da pesquisa do IBOPE mostram o quanto o brasileiro ainda é reticente em relação a certos temas.

O que chama a atenção nesta pesquisa é que os brasileiros revelaram se achar muito mais éticos e progressistas do que sua própria sociedade. O brasileiro, ao fazer uma auto-avaliação, considera ter espírito público, respeito à cidadania e aos direitos humanos e que, acima de tudo, não é racista nem homofóbico. Na hora de avaliar o comportamento dos outros, a coisa muda de figura: os brasileiros acham que o restante da sociedade não pratica esses mesmos valores. Em uma escala de 0 a 10 pontos, o brasileiro dá a si mesmo, em média, nota 8 e para “os outros”, nota 5.

O Brasil não é para iniciantes mesmo... Como é que se entende uma contradição destas? Um país essencialmente conservador e cheio de pessoas que se acham à frente de seu próprio tempo...

Para variar, o nível declarado de rejeição ao homossexualismo está entre os mais altos da pesquisa: 33% das pessoas entrevistadas afirmaram que se afastaria de um amigo se soubesse que ele é homossexual. Que bom que 65% afirmaram que não fariam isso, mas o índice de 33% é alto, não? Afastar-se de alguém, de quem você gosta, só porque ela é homossexual, é preconceito violento... E 1/3 das pessoas admitiram preferir esta atitude.

Os dados estão na “PESQUISA DE VALORES E ATITUDES DA POPULAÇÃO BRASILEIRA”, realizada pela agência Nova S/B em parceria com o Ibope, que ouviu 1.400 brasileiros a respeito de 7 temas, de racismo a meio ambiente.

Leia mais sobre a pesquisa no site do IBOPE: http://www.ibope.com.br/
Leia mais sobre a pesquisa “A CABEÇA DO BRASILEIRO” no site safonocinema:
http://www.safonocinema.com.br/papo_cabeca.php#7


sexta-feira, 14 de março de 2008

TINHA QUE CAIR UM TEMPORAL...

Em noite de caos no Rio de Janeiro, a banda americana Interpol fez seu primeiro show na cidade. Os novaiorquinos já estão em seu terceiro disco, mas o público, embora tenha deixado claro o quanto queria ver a banda, não disfarçou sua predileção pelas músicas dos dois primeiros álbuns.

Esse show demorou a aportar por aqui. Acabou rolando uma defasagem entre o momento da banda, promovendo o disco recém-lançado, “Our love to admire”, e a emoção do público, voltada para canções mais antigas. Bem, quem não passou o ano de 2002 ouvindo “Turn on the bright lights”, pego pela atmosfera perfeita daquelas músicas? E quem em 2004 não se rendeu de vez a “Antics”? Resultado: uma platéia doida pra cantar “Rosemary...”. E a Fundição Progresso, cheiaça, o fez com paixão, apesar do vocalista impassível o tempo todo.

A banda não decepcionou e mandou várias músicas destes dois grandes discos, como "Obstacle 1", “NYC”, “Evil”, “PDA”, “Not even jail” e “Stella was a driver and she was always down”. Feliz, o público esperou na boa os 20 minutos de interrupção por problemas no som, enquanto um morcego (isso mesmo, um morcego) dava umas voltinhas pela área. Para surpresa geral, a banda mandou no bis uma só canção, e logo uma tão bonita, “Untitled”. A letra veio bem a calhar: “Surprise, sometimes, will come around”. Na platéia, totalmente lés fiendly, meninas aproveitavam.

A surpresa non grata ficou por conta das ruas alagadas, que fizeram uma boa galera se atrasar pro show e na saída morgar no trânsito parado. Nesta cidade não pode chover mais de 20 minutos, senão só o barquinho vai...

domingo, 9 de março de 2008


DON’T GO (E OUTROS FILMES LÉSBICOS)

O piloto de uma nova série de TV, DON’T GO, será exibido no 22 LONDON LESBIAN & GAY FILM FESTIVAL (27 de março a 10 de Abril). A série, escrita e dirigida por Amber Sharp, traz Guinivere Turner no papel de Melody, uma hermafrodita que engravida acidentalmente a namorada, cuja identidade é predominantemente masculina. A diretora já ganhou um prêmio pelo piloto da série, que chamou a atenção nos EUA por trazer em seu elenco muitos atores negros.

Dentre os filmes lés que serão exibidos este ano no festival estão:


THE WORLD UNSEEN
Inglaterra / África do Sul (2007) – 104 min.
Direção: Shamim Sarif
Amina é proprietária de um café em Cape Town, África do sul, por onde circulam pessoas que resistem ao regime racista do apartheid. Ela se apaixona por Miriam, um mulher casada e inicia com ela um relacionamento.


MA RAINEY'S LESBIAN LICKS

EUA (2006) – 4 minutos
Direção:
Robert Philipson
Recria um número de Gertrude Rainey (1886 – 1939), cantora de blues conhecida como Ma Rainey, que relatou na canção "Prove It on Me Blues" uma experiência lésbica. No filme a canção é interpretada pela cantora Tia Carroll.


SEARCHING 4 SANDEEP

Austália (2007) - 55 mins

Direção: Poppy Stockell

Poppy tem 28 anos e vive em Sidney. Ela conhece pela internet Sandeep, uma indiana de 31 anos, que vive na Inglaterra e tem problemas para se assumir diante da conservadora família sikh. As duas se apaixonam e se encontram durante 2 anos por três diferentes continentes.


Saiba mais em:
http://www.dontgotheseries.com/
http://www.bfi.org.uk/llgff/

sábado, 1 de março de 2008


ESTRÉIA NOS CINEMAS “XXY”

A boa pedida de cinema desta semana é "XXY", filme de estréia da diretora argentina Lucia Puenzo, sobre os conflitos de identidade de Alex, que nasceu com os dois sexos. Seus pais rejeitaram a cirurgia de castração proposta pelos médicos quando Alex nasceu, e mudaram-se com ela para um balneário no Uruguai. Um médico cirurgião, Ramiro, vai visitar a família para conhecer Alex e leva Álvaro, seu filho adolescente.


Alex foi criado como uma menina, mas aos quinze anos pára de tomar os corticóides que impediam o desenvolvimento de características masculinas em seu corpo. Ela está confusa, mas parece disposta a experimentar as possibilidades que lhe são abertas. Ela, então, se envolve com Álvaro, e, embora este revele estar se apaixonando, a relação entre eles é apresentada como algo complicado demais para os dois.


Lucia Puenzo fez um filme bastante carregado de sofrimento, sugerindo o quanto as diferenças ainda custam um preço alto para as pessoas. Lento, até arrastado em algumas partes, cheio de silêncios e de trocas de olhares entre os personagens, o filme tem, em contrapartida, cenas bonitas, belas paisagens no balneário e ótima interação entre os atores, ponto alto da produção. O tema é muito raro no cinema e a diretora o aborda com alguma esperança de que a personagem construa uma imagem positiva de si mesma e perfaça seu próprio caminho. Essa chance foi dada a Alex pelos próprios pais, que mantiveram abertas as possibilidades de seu desenvolvimento sexual. Kraken, o pai de Alex, é biólogo e, com suas atitudes que sempre expressam respeito à natureza, parece pressentir que forças internas à Alex acabarão por se manifestar. Ramiro, o médico cirugião, é seu exato oposto, um “reformador da natureza”, que, nas palavras de Álvaro, conserta defeitos nas pessoas.


A defesa da possibilidade de escolha de Alex, ou do encontro da personagem com sua própria natureza, parece ser a mensagem recorrente do filme, salpicada em tantas metáforas, algumas de gosto duvidoso, como cenouras sendo picadas e tartarugas mutiladas... O título do filme chegou a levantar alguma polêmica, pois se refere à Síndrome de Kleinefelter, uma alteração cromossômica que atinge somente homens, e que é diferente do hermafroditismo ao qual a personagem de Alex acabou sendo associada. A diretora afirmou que o filme não é um documentário e sim uma história de ficção, que não se apóia no realismo médico. A luta da personagem no filme, é claro, dirige-se justamente contra os rótulos que a estereotipam como uma aberração.


O próximo filme de Lucía Puenzo é uma adaptação de sua primeira novela, El Niño Pez, sobre uma jovem de família rica que se apaixona pela empregada.


XXY

Argentina/França/Espanha, 2006 - Drama (86 min)

Direção e Roteiro: Lucía Puenzo, baseado no conto "Cinismo" de Sergio Bizzio
Fotografia: Natasha Braier
Elenco: Inés Efron (Alex), Ricardo Darín (kraken), Valeria Bertuccelli (suli), Germán Palacio (Ramiro), Carolina Pelleritti (Erika), Martín Piroyansky (Álvaro), Luciano Nóbile (Vando)
Premiações: Athens International Film Festival (melhor filme), Bangkok International Film Festival (melhor filme), Cannes Film Festival (Grande Prêmio da Semana dos Críticos e Grand Golden Rail), Clarin Entertainment Awards (melhor filme, melhor atriz – Inês Efron, melhor atriz coadjuvante - Valeria Bertuccelli, melhor filme de estréia), Edinburgh International Film Festival (melhor diretor estreante), Goya Awards (melhor filme estrangeiro em língua espanhola), Montréal Festival of New Cinema (prêmio da crítica), World Soundtrack Awards (trilha sonora).


FONTES
:
http://www.imdb.com/title/tt0995829
http://www.cinemawithoutborders.com/news/127/ARTICLE/1477/2008-02-20.html