domingo, 8 de novembro de 2009



GENTE SEM HONRA


Em outro sábado bacana, vi o segundo filme baseado em peça de Shakespeare no curso de Filosofia e Cinema. Depois de Ricardo III de Al Pacino, foi a vez de MacBeth de Polanski. O professor reforçou a tese de que a história, na visão do bardo, é um cemitério de reis, uma espécie de engrenagem que se move à base da ambição humana e da usurpação do poder por meio do assassinato.


MacBeth vira suco nesta engrenagem, depois de chegar ao topo do poder matando o rei Duncan e tendo sua cabeça cortada no final da história por aquele que o sucederá nesta sangrenta e infindável "roda da história". Assim também Ricardo III promoveu intrigas terríveis para chegar ao poder para, em seguida, perdê-lo e ver-se reduzido, em meio ao campo de batalha, à miserável condição de alguém que trocaria seu reino por um cavalo.


Esta tese, disse o professor na palestra, foi desenvolvida por Jan Kott, no livro "Shakespeare, nosso contemporâneo". Ela estaria muito bem sintetizada na famosa passagem de MacBeth, "a vida é apenas uma sombra que passa. Um pobre ator que grita e se agita por algumas horas e, então, se cala. É uma história contada por um idiota, cheia de som e fúria, significando nada".


Eu e meu amigo não ficamos convencidos desta idéia com os dois filmes que vimos. Achamos que há questões éticas nestas histórias, que mostram muito mais um processo em que alguém tenta chegar ao poder de modo ilegítimo, por meio de traição e violência, abandonando valores como lealdade e honra, e tem um final trágico por isso. Seria Shakespeare um moralista?


E também não tive dúvidas de que Polanski deixou no chinelo a tentativa insossa de Al Pacino de aproximar Shakespeare das massas (americanas, claro).

sábado, 24 de outubro de 2009


Chagall em russo quer dizer caminhante.


Em suas obras, por sinal, poucos preferem a terra firme.








domingo, 11 de outubro de 2009




Primavera, Outubro.

Um dia azulão depois de vários dias feiosos com chuva insistente. 5 da tarde. Descobri na internet um disco novo da minha banda favorita. De quebra, descobri também um disco solo da vocalista da banda, que eu adoro. São minhas companhias do dia. Que começou dedicado a resolver aqueles problemas chatos tipo pia entupida. Depois emendei dando banho na macacada. Os 5 cachorros estão agora cheirosos e com o pêlo birilhante.

Fui pra cozinha ao som de Margo Timmins. Fiz pastel de queijo, abri um vinho, fiquei pensando na vida. Não consegui concluir nada que fosse útil no momento. Mas ainda bem que o prazer de seguir na estrada justifica os caminhos que não levam a lugar algum.

A comida está boa, eu passei um tempo conversando com um amigo ao telefone sobre filosofices e o chamei para ver um dos filmes do evento de filosofia sábado que vem. Vai rolar Paris, Texas. Eu ouço falar deste filme há tanto tempo, mas nunca o assisti. Minha primeira namorada era fã dele e vivia insistindo para eu assistir. Mas eram os anos 90 e um filme do Wim Wenders não dava mole por aí nem em VHS, que dirá na internet.

O vinho é de quinta. Mas um chileno de quinta ainda é melhor do que a maioria das porcarias que eu tomo. Chama Vento Der Sur e é Cabernet Sauvignon, o que facilita muito as coisas. Os cigarros estão na roda, depois que acaba a comida.

Agora as tintas estão aqui por perto também.

Ontem encontrei um amigão quando fui assistir Hiroshima Mon Amour, assim mesmo sem virgula o título, como destacou o professor que deu a palestra depois. Conversamos muito sobre o filme, a arte, a filosofia e a educação e foi um dia muito bacana e chuvoso pra nós.

No filme, uma atriz Francesa, que está rodando um documentário qualquer sobre a paz na Hiroshima pós-guerra se envolve com um japonês que quer dar continuidade ao relacionamento. Ela parece sentir que sim, mas entra em parafuso quando o vê dormindo e se lembra, por uma traição da memória involuntária, do que julga ter sido o amor de sua vida. A posição da mão do atual amante em soneca a faz lembrar da posição da mão do ex-amante que encontrou morto. Triste, uma infinidade de sentimentos de culpa a perseguem e a impedem de viver o novo amor. É doída, mas muito bonita cinematograficamente, a cena em que ela mergulha o rosto na água, confessando ao antigo amante que estava quase a lhe esquecer. Paralelamente, rola uma associação com a questão do esquecimento da tragédia da bomba sobre a cidade. Hiroshima, enfim, também parece seguir em frente, embora os documentários bem-intencionados ali estejam para lembrar o horror ocorrido, com a mensagem edificante de que aquilo não poderia se repetir novamente.

O professor, na palestra lembrou da teoria de Adorno, filósofo alemão que disse que a arte, embora deva ser engajada a ponto de contribuir para que Auschwitz não se repita, não deveria transformar aquela experiência em um produto cultural a ser “consumido”, isto é, digerível como qualquer outra mercadoria. A arte não deveria ensinar às pessoas o que elas deveriam pensar. Adorno fala em defesa de uma arte que não traga mensagens prontas, nem carregadas de uma moral profunda. Estas são muito palatáveis, confortantes e igualmente esquecíveis. Só as mensagens que inquietam com suas perguntas permanecem. Bem, Adorno não deve ter dito exatamente isto, mas percebi que vou ficar com este filme em mim, por causa de Auschwitz e por causa do que sinto neste mometo da minha vida pessoal.
Nem mesmo a arte poderia pretender representar com fidelidade todo aquele horror, afinal, só quem morreu na câmara de gás o viveu plenamente, disse Primo Levi. Esse questionamento perpassa o filme, já que a personagem da atriz insiste em ter visto “tudo” em Hiroshima, porque visitou os museus da guerra, tendo visto os destroços e as imagens dos corpos queimados. “Não, você não viu nada em Hiroshima”, retruca o amante.

E o filme assim escorrega, com muita angústia, entre o que deve ser esquecido e o que precisa ser lembrado. E a cidade, em que tudo parece se desfazer como se, ainda hoje, também fosse alvejado por uma bomba, é o cenário perfeito para estas discussões.

Até mesmo na era dos amores líquidos este filme parece deixar sua inquietude.E foi feito em 1959, por Alain Resnais, com base no texto de Marguerite Duras.

Tem sido muito bacana retomar o contato com estes filmes clássicos por meio deste curso de filosofia. E ontem também assiti a Gesto Obsceno, um filme contemporâneo, mas é papo para outra garrafa de vinho, já que o Vento Der Sur já foi pra conta. Talvez eu consiga abrir um sul-africano que havia reservado para uma ocasião que não vai mais acontecer.
Ai, essas coisas que precisam ser esquecidas...

sábado, 10 de outubro de 2009

Hoje no curso de filosofia rolou a sessão de Hiroshima Mon Amour. Filmaço sobre os horrores da guerra, do amor e da lembrança.

Pra variar, dialogou direto com meu momento.

Assim não consigo largar esse vício.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Um dia horrível de chuva.

Amanhã seria meu aniversário.

Mas o dia 9 de Outubro desta vez saiu por aí, para algum lugar bem longe dos meus desejos.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

DIAS DE FESTIVAL
Uma vida nova em folha, de Ounie Lecomte
No Espaço de Cinema lotadinho
Bonito filme. Não saberia explicar o modo de filmar da diretora, só sei que me deixou cercada junto à Jin-Hee, abandonada pelo pai aos 9 anos em um orfanato. O filme acontece todo dentro das emoções da personagem, perfeitamente transmitidas em uma atmosfera tão verossímil, que faz parecer que a diretora filmou escondida em um orfanato existente.

O interessante é que a história não apela para certas situações tradicionalmente exploradas em filmes do tipo. A menina não apanha, não passa fome, nem é atazanada pelas outras internas. O sofrimento intenso da personagem, que chega a enterrar a si própria em uma cena, é construído em torno dos efeitos do abandono, nos deixando a pensar se sua situação de fato mudaria com uma adoção. E assim sendo, há vários modos de se estar bem perto do que sente Jin-Hee, tornando este um daqueles filmes que, embora autobiográficos, são cheios de um irresistível universalismo.
Fantasma, de Monika Treut
No Estação Barra Point praticamente vazio
Único filme lés da mostra Mundo Gay do Festival deste ano, quase me levou a abandonar a sala de cinema lá pelo meio da projeção. Realmente, não deu pra entender o que a diretora quis dizer com aquela encheção de lingüiça insuportável. História que não desenrola, personagens sem carne nem osso e casal zerado em química me fizeram abrir meu jornalzinho pra ver quanto tempo ainda duraria a peleja.
Pelo que entendi, uma artista alemã perde a namorada coreana e é perturbada por seu espírito, até lançar mão de um ritual oriental para fazer a morta finalmente descansar em paz. Mas não tem nada de terror, nem de suspense, nem de filme de amor! Eis um filme que, ao invés de transcender gêneros, não encontra nenhum para desenvolver uma história razoável. A acrescentar, só mais uma personagem lés a virar presunto, desta vez atropelada. Ruim de doer.

sábado, 26 de setembro de 2009



Dias bonitos como este são ainda mais difíceis...
OUTRAS DICAS DO FESTIVAL

O novo de Lucía Puenzo (diretora de XXY), um brasileiro e um chileno especialmente garimpados:

O MENINO PEIXE
Direção: Lucía Puenzo
Argentina (2009) - 96 min.

Lala, moradora de um dos bairros mais ricos de Buenos Aires, se apaixona loucamente pela jovem empregada de seus pais, a paraguaia Guayi. Juntas elas fazem planos de ir morar no Paraguai, à beira do lago Ypoá, e começam a roubar tudo o que veem pela frente, guardando as economias numa caixa de sapatos. Quando a caixa enche, sentimentos desagradáveis como a raiva, a inveja e o ciúme começam a aflorar. Mas este é apenas o ponto de partida para uma fuga que as leva para a grande estrada que liga o norte da Argentina ao Paraguai, onde acontecimentos inesperados as aguardam.
Quando passa:
Domingo - 04/10/2009 - Espaço de Cinema 2 - 12:15:00 hs
Domingo - 04/10/2009 – Espaço de Cinema 2 – 19:00:00 hs
Segunda - 05/10/2009 – Est Barra Point 1 – 22:30:00 hs
Terça - 06/10/2009 – Cine Santa – 21:00:00 hs
Quarta - 07/10/2009 – Estação Ipanema 1 – 15:15:00 hs
Quarta - 07/10/2009 – Estação Ipanema 1 – 19:45:00 hs
HISTÓRIAS DE AMOR DURAM APENAS 90 MINUTOS
Direção: Paulo Halm
Brasil / Argentina (2009) - 90 min.
Zeca, jovem escritor, às voltas com romance que não consegue escrever, vive no mais profundo ócio. Tem 30 anos, mas age como se fosse um adolescente. É talentoso, mas dispersivo: escreve duas frases e logo desiste. Casado com Julia, vive crise de relacionamento, provocada pela forma antagônica com que vêem a vida: Zeca não quer nada, Julia sabe o que quer. Zeca é infeliz, porém conformado. Até o dia que começa a acreditar que Julia o está traindo. E para seu espanto, com outra mulher.
Quando passa:
Sábado - 03/10/2009 – Odeon Petrobras – 21:30:00 hs
Domingo - 04/10/2009 – Odeon Petrobras -l 13:00:00 hs
Segunda - 05/10/2009 – Est Vivo Gávea 3 - 15:40:00 hs
Segunda - 05/10/2009 – Est Vivo Gávea 3 - 22:10:00 hs
NAVIDAD
Direção: Sebastian Lelio
Chile / França (2009) - 103 min.
Alejandro tem 17 anos e namora Aurora, de 18. Eles decidem passar o Natal juntos na casa abandonada da família de Aurora, no sopé dos Andes. Mas o relacionamento dos dois tem sido perturbado por constantes desentendimentos. Alejandro se sente frustrado em relação à própria vida, e Aurora está em crise com sua sexualidade. Quando o rompimento parece a única solução, o casal é surpreendido por Alicia, adolescente de 16 anos que fugiu de casa. Simultaneamente, Alejandro e Aurora se veem atraídos pela intrusa. Quinzena dos Realizadores de Cannes 2009.
QUANDO PASSA:
Sexta - 25/09/2009 - Espaço de Cinema 1 - 21:15:00 hs
Domingo - 27/09/2009 - Est Vivo Gávea 4 - 13:20:00 hs
Domingo - 27/09/2009 - Est Vivo Gávea 4 - 19:50:00 hs
Terça - 29/09/2009 - Est Barra Point 1 - 16:00:00 hs
Quinta - 01/10/2009 - Estação Ipanema 1 - 19:15:00 hs
Sábado - 03/10/2009 - Cine Santa - 19:00:00 hs

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

DIAS DE FESTIVAL DO RIO

CHUVA, de Paula Hérnandez
No Estação Vivo Gávea


Chuva foi bem forte pra mim. Alma, a protagonista, era tão parecida fisicamente com minha primeira namorada... E, nesta fase em estou, vendo alguém de quem tanto gosto partir, que filme de amor não me acertaria em cheio?

Compartilhei da estranheza e do interesse da situação de Alma e Roberto, dois desconhecidos que se cruzam em uma noite chuvosa de Buenos Aires. No escurinho da sala, me deixei embalar pelo prazer das descobertas e por outros momentos mágicos e fugidios daqueles dois personagens que conseguiram até brigar no curto período em que estiveram juntos.

Alma e Roberto, além de comprometidos, estavam em momentos extremamente difíceis de suas vidas emocionais. Os dois, porém, conseguiram compartilhar de modo intenso estas singularidades de suas vidas. De modo intenso e breve, tal e qual uma torrente de chuva.

No final, não pude deixar de perceber que o filme cita (ou, quem sabe, chupa descaradamente) Antes do Amanhecer, na cena em que a câmera passeia nostálgica pelos lugares vazios onde os personagens estiveram juntos. Cena que, chupada ou não, é de sacudir o coração.

O MARAVILHOSO MUNDO DA LAVANDERIA, de Hans Christian Schmidt
No Estação Vivo Gávea

Este filme me fez lembrar imediatamente do poema do Brecht, Perguntas de um operário letrado (“Na noite em que se terminou a muralha da China, para onde foram os operários da construção?). Como se fizesse pergunta semelhante, o filme vai atrás das vidas ordinárias de mulheres pobres polonesas que lavam as roupas de cama e mesa de hotéis luxuosos de Berlim.

Os relatos destas trabalhadoras, que parecem ter perdido a expectativa de uma vida melhor, contrastam de modo chocante com o discurso dos donos da lavanderia, que exibem a racionalidade crua da busca da eficiência nos negócios (“Nenhuma mulher na Alemanha aceitaria trabalhar nestas condições por este salário, então vamos até onde os custos da mão-de-obra são mais competitivos”). Tão clean assim, nem mesmo os lençóis lavados pelas moças...

domingo, 20 de setembro de 2009

FESTIVAL DO RIO 2009
O Festival do Rio deste ano está com uma fraquíssima seleção de filmes de interesse lés. Dos 12 que passam na mostra MUNDO GAY, somente 1 é francamente dirigido às meninas, GHOSTED, de Monika Treut.

Fora isto, só fuçando a programação em busca de otras cosas interessantes. É o caso de MATADORES DE VAMPIRAS LÉSBICAS, de Phil Claydon, que passa na mostra MIDNIGHT MOVIES e de ERÓTICA AVENTURA, de Jean Claude Brisseau, na mostra PANORAMA DO CINEMA MUNDIAL.

GHOSTED
DIREÇÃO: Monika Treut
Alemanha/Taiwan (2009) – 89 min.
Com Inga Busch, Huan-Ru Ke, Ting-Ting Hu

A vida emocional da artista Sophie Schimtt se complica quando sua namorada taiwanesa Ai-ling morre subitamente em estranhas circunstâncias. Sophie viaja até Taipei para expor uma obra feita em homenagem à namorada e lá conhece Mei-li, uma jornalista que investiga secretamente a morte de Ai-ling.

A diretora do filme, Monika Treut, tem uma interessante produção independente de vídeos que abordam gênero e sexualidade, como Annie, Dr. Paglia, Bondage e Didn’t do it for Love, reunidos na coletânea FEMALE MISBEHAVIOR (1992), dedicada a mulheres que, com comportamentos não-conformistas desafiaram estereótipos e quebraram tabus sexuais. Monika Treut esteve no Brasil no início dos anos 2000, quando rodou “Guerreira da Luz”, documentário sobre a luta da artista plástica Yvonne Bezerra de Mello pelos menores de rua.

Ghosted está na mostra MUNDO GAY do FESTIVAL DO RIO nas seguintes datas:

Sábado - 26/09/2009 – Estação Ipanema 2 (22:50hs)
Domingo – 27/09/2009 – Estação Barra Point 2 (20:15hs)
Segunda – 28/09/2009 – Estação Botafogo 1 (23:59 hs)
Quarta – 30/09/2009 – Cine Glória(14:00 hs e 18:00 hs)

Programação completa em:
http://www.festivaldorio.com.br

quarta-feira, 26 de agosto de 2009


MOSTRA DE ANIMAÇÃO LGBT


A Íris - Mostra Internacional de Animação LGBT é destinada exclusivamente a exibição de filmes de animação, brasileiros e estrangeiros, com temática relacionada a diversidade sexual: gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais.


Foram selecionados 21 filmes de animação de curta metragem de diversos países: Brasil, África do Sul, Austrália, Bulgária, Canadá, Dinamarca, EUA, França, Países Baixos, Reino Unido, Suécia e Turquia.


Os filmes estão em dois programas (Programa 1 e Programa 2) e serão exibidos durante as 3 primeiras terças feiras do mês de setembro de 2009 (01/09, 08/09 e 15/09) em duas sessões diárias (19:00 e 20:30).


A Íris - Mostra Internacional de Animação LGBT acontecerá no cinema do CCJF - Centro Cultural Justiça Federal que fica na Avenida Rio Branco, 241, Centro, Rio de Janeiro. O ingresso custará R$ 6,00 (inteira) e 3,00 (meia).


Confira os filmes selecionados e todas as informações da mostra no www.mostrairis.com.br

domingo, 12 de julho de 2009


CARAMELO


Quase sempre o cinema fala do Oriente Médio para relatar suas tensões políticas, suas guerras sem fim e suas intrincadas disputas religiosas. Por meio destes cenários, nos acostumamos a atribuir uma espécie de singularidade a esta região, marcada pela violência e pela desarmonia de culturas.

A cineasta Nadine Labaki mostra em CARAMELO uma Beirute surpreendente em muitos aspectos. Contando as histórias de um grupo de amigas em tono de um salão de belezas, a diretora, que também atua no filme, põe em cena as regras restritivas daquela cultura e, ao mesmo tempo, mostra o florescer de uma sociedade moderna, povoada de indivíduos com seus dramas universais, que poderiam habitar outras cidades do mundo.

Uma destas mulheres, Rima, é uma jovem lésbica que se envolve romanticamente com uma cliente. O salão é personagem à parte na história e constantemente vemos que sua rotina ganha significados diferentes, conforme vivida por cada uma das personagens. O simples gesto de lavar os cabelos, por exemplo, substitui o tom prático pelo sensual, quando encenado por Rima e seu objeto de desejo.

Um belo passeio por uma cidade tão desconhecida, guiado pelo olhar interessante de Nadine Labaki.
CARAMELO (SUKKAR BANAT)
França/Líbano (2007) - 95 min.
ELENCO: Nadine Labaki, Yasmine Elmasri, Joanna Moukarzel, Gisele Aouad, Adel Karam, Sihame Haddad

domingo, 28 de junho de 2009


PENSAR, VER FILMES...

Está rolando na Caixa Cultural da Av. Chile, todos os sábados de manhã, o curso A HISTÓRIA DA FILOSOFIA EM 40 FILMES. Sábado 06 de Junho estive lá e adorei o filme Blow Up e também a discussão levantada pelo professor Patrick. O dia começou frio, mas a tarde veio me lembrar o que é o inverno carioca: você sai de casa cedo, todo encasacado, para morrer de calor poucas horas depois.

E o dia foi assim:

BLOW UP, de ANTONIONI

Este filme é de 1966 e é uma adaptação livre do conto “As babas do diabo”, de Cortázar. Como o entende Antonioni, é a história de um fotógrafo de sucesso na Swinging London, que ganha muita grana, mas que vive entediado e sem rumo no mundinho das celebridades. Wilco, o fotógrafo, é arrancado de seu estado de torpor ao fotografar um casal em um parque e ser perseguido pela mulher que exige a devolução do filme. Intrigado, ele amplia as fotografias e acredita ver, entre os arbustos do parque, um homem armado. Cria então, uma história de um crime e abre-se a discussão sobre a relação entre realidade e interpretação.

O professor mostrou dois momentos da história da filosofia: o realismo e o idealismo. No primeiro, entende-se que a realidade existe em si mesma e pode ser conhecida pelo homem (especialmente por meio da filosofia). No segundo, há um reconhecimento do papel da subjetividade no processo de conhecimento da realidade, que deixa de ser uma esfera autônoma e independente. O idealismo, porém, tem em comum com o materialismo a noção de que existe algo de transcendente na relação sujeito-objeto. Para o materialismo, a realidade transcende o sujeito e, portanto, há uma só verdade a ser apreendida por todos os sujeitos. Para o idealismo, é o sujeito o elemento transcendente, há uma essência na racionalidade humana, que confere a todos os sujeitos um só modo de conhecer.

Até este momento na história da filosofia, pelo que pude entender, há um centro que amarra a relação sujeito-realidade. A partir de Nietzsche, porém, este centro se desmancha na direção de um perspectivismo que afirma que o mundo pode receber múltiplas significações, já que não há nenhuma verdade embutida na realidade, nem no sujeito humano. Embora isto promova, por um lado, uma tremenda libertação, por outro causa profunda desorientação, já que nada mais possui significados fixos e, portanto, tudo pode significar qualquer coisa. E é sobre esta tensão entre liberdade e desorientação que trata o filme. E esta seria a condição do homem na modernidade.

Há uma frase famosa de um livro que nunca li, que afirmava: “se deus está morto, tudo é permitido”. A frase passou a simbolizar o fim de qualquer transcendência capaz de garantir ao homem uma condição fixa e estável. No filme, esta experiência, sentida na carne por Wilco, é radicalizada, já que nem a fotografia, com toda a sua promessa de retratar fielmente a realidade, é capaz de retirar o personagem de sua tensa condição moderna. Ao contrário, é ela quem atira Wilco em uma situação em que se vê sozinho com seus próprios filtros interpretativos, que não o permitem encontrar “a verdade”, nem mesmo ligá-lo de modo definitivo a outros sujeitos. Esta ligação, quando ocorre, é nitidamente precária e limitada a breves momentos nos quais uma fugaz comunidade de sentidos se forma, como mostra uma cena linda, linda, de uma partida de tênis disputada por mímicos que convidam Wilco a apanhar “a bola que caiu do outro lado da quadra”.

Você a pegaria?

domingo, 7 de junho de 2009


Ai, Que Saudades da Amélia
De Ataulfo Alves e Mário Lago

Nunca vi fazer tanta exigência / Nem fazer o que você me faz / Você não sabe o que é consciência / Nem vê que eu sou um pobre rapaz / Você só pensa em luxo e riqueza / Tudo o que você vê, você quer / Ai, meu Deus, que saudade da Amélia / Aquilo sim é que era mulher

Às vezes passava fome ao meu lado / E achava bonito não ter o que comer / Quando me via contrariado / Dizia: "Meu filho, o que se há de fazer!" / Amélia não tinha a menor vaidadeAmélia é que era mulher de verdade

Afinal, o que tem esta letra que torna esta personagem o símbolo supremo da mulher submissa?
Quem é o oposto da Amélia?
Quem só pensa em luxo e riqueza
Quem quer tudo aquilo que vê
Quem não quer saber de amor quando as coisas apertam

A anti-consumista, que acredita no amor acima do materialismo, está exatamente contra o senso comum de nossa época.

Está errada a Amélia?

segunda-feira, 25 de maio de 2009


MOSTRA FEMINA NO ODEON


Sexta-feira, 20/09, às 21hs tem Cineclube LGBT no Cinema Odeon Petrobras (Cinelândia/RJ), que desta vez exibirá o Programa Especial FEMINA com cinco curtas-metragens de diferentes países, abordando as percepções de mulheres sobre a sexualidade.


Os curtas exibidos serão:


- Dias Brancos (de Débora Giammarini - Argentina)
- Minha primavera com salto (de Viva Delorme - França)
- Dançando para a Felicidade (de Barbara Seiler - Suíça)
- Twende (de Lindsay Sanner - Noruega)
- Homo Baby Boom (de Anna Boluda - Espanha)


29/05/09 - 21 hs
CINE ODEON PETROBRAS - Cinelândia/RJ
R$10 (inteira) e R$5 (meia)
Ingressos antecipados a partir de terça, 26/5, na bilheteria do cinema ou pelo site http://ingresso.com.br

domingo, 26 de abril de 2009


Bacaníssimas jam sessions andam rolando às sextas-feiras em frente à banca do blues (Rio Branco esquina com Presidente Wilson).

A banda desta sexta escancarou a música boa. Quem passou por perto não resistiu ao som.

Ouvir blues sexta à noite, ao ar livre, no Rio de Janeiro, é um deleite raro.

Mirei a fumaça se desfazer, curti a cerva e pensei em uma ausência.

Só não pode chover...

sábado, 4 de abril de 2009


Quando dói o amor
É um veneno
Tão lento a comer o sangue
Como se o remédio estivesse do outro lado do mundo


sexta-feira, 3 de abril de 2009

OUTROS FILMES DO BFI 2009

Steam

Três histórias entrelaçadas de três diferentes mulheres: uma estudante (Kate Siegel) que entra em conflito com a família quando se apaixona pela primeira vez por uma mulher, uma mãe (Ally Sheed) que disputa a custódia do filho com o ex-marido e uma viúva (Ruby Dee) redescobrindo a vida amorosa .

EUA (2008) - 117 min - Direção de Kyle Schickner








sábado, 28 de março de 2009

ENTRE OS MUROS DA ESCOLA


Laurent Cantet é um cineasta que, como poucos, percebe a importância de dois espaços centrais na vida contemporânea: a escola e as empresas. Sempre achei estranho que o cinema se dedique tão pouco a falar destes universos que, volta e meia, aparecem nos filmes como espaços iguais a qualquer outro, quase nunca provocando reflexão sobre eles.

Pois em seu novo filme, o diretor de "Recursos Humanos" foca sua atenção no ambiente escolar, retirando-o de sua condição de pano de fundo, para torná-lo uma espécie de personagem de sua história.

O título do filme é um tremendo achado e acerta em cheio no dilema fundamental da escola, em toda a sua existência: o de sofrer com quase nenhum controle a brutal influência do "mundo lá fora". Ao redor da rotina que se desenrola entre os muros desta escola contemporânea, está o mundo globalizado, multicultural e tão cheio de diferenças que ora atraem, ora colocam em oposição as pessoas que estão "lá dentro".

As situações abordadas são capazes de mexer com todo mundo pelo seu tom realista, sem glamour e até engraçado, mesmo que o filme não se proponha exatamente a fazer piada dos assuntos. Aquela sala de aula muita gente já viu, embora as coisas aqui por nossa terra estejam um pouco diferentes, talvez menos diversas e, com certeza, muito mais violentas do que o que vemos na sala de aula de Cantet. Assim é o Brasil, afinal. Quem dá aulas por aqui sabe que os perrengues passados pelo professor no filme estão bem aquém do que passamos cá por essas bandas...

domingo, 22 de março de 2009


Praça da Apoteose, 20.03.09

Em dia cheio de boas atrações, o Radiohead reinou absoluto, com suas canções tristes e furiosas em show no Rio de Janeiro. E sua música cheia de barulhinhos esquisitos não perdeu nada em um lugar tão amplo como a praça da Apoteose.

Apesar do problema da distância do palco (mesmo estando na pista), show na Praça da Apoteose tem um clima interessante, você pode ver ao redor as luzes nos morros, a igreja gótica e o Cristo Redentor, ouvindo um som altamente improvável no Rio de Janeiro - e logo no templo do samba.

Bem, em termos de sons improváveis, o Radiohead nada deixa a desejar.


A banda foi bastante generosa com os fãs, mandou vários de seus hits, incluindo a tão pedida Creep. Apresentaram-se cheios de força e eletricidade no palco, com a performance paranoid android de Thom Yorke botando gás na platéia. Tudo caindo perfeitamente bem no cenário teknik (como diria o Kraftwerk) montado para o show, simulando uma espécie de realidade virtual. E a platéia respondeu com todo o coração.

No show rolou:

15 Steps
Airbag
There there
All I need
Karma Police
Nude
Weird fishes
Planet telex
The gloaming
Faust arp
No surprises
Jigsaw falling into place
Idioteque
Street spirit
Body snatchers
How to disappear completely
Videotape
Paranoid android
House of cards
Just
Everything in its right place
Creep

E outras 3, cujo nome não conhecia.

Versos mais gritados na apoteose:
"This is what you get, when you mess with us"
"You so fucking special"
"no alarms and no surprises, please"

Já que a banda, rendida diante de 24 mil fãs apoteóticos, deixou passar a balada-mor de sua carreira, é claro que vou reclamar da falta de algumas outras. Eu dispensaria tranqüilamente Creep para curtir Fake Plastic trees ou, ainda, para ouvir "Don't leave me high... Don't leave me dry...", dando umas olhadelas para o Cristo Redentor.

Mas valeu, e muito.


sábado, 14 de março de 2009


POR AÍ NOS FESTIVAIS

To Each Her Own
Canadá (2008) - 109 min.
Direção: Heather Tobin
Com:Hannah Hogan, Tracy Rae, Shaughnessy Reddenn

Mais um conto sobre “sair do armário”, desta vez envolvendo uma jovem recém-casada, que tem de enfrentar os preconceitos da mamãe homofóbica, quando se apaixona por uma lésbica assumida.
Trailler do filme:
http://vids.myspace.com/index.cfm?fuseaction=vids.channel&ChannelID=195986161

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009


REMOTO CONTROLE

Em 17 de Feveiro, um caminhão da COMLURB tombou no túnel Rebouças, parando a Zona Sul do Rio de Janeiro. Como resultado da astúcia do motorista, o túnel foi interditado por 3 horas, todas as vias de acesso ficaram engarrafadas e um monte de gente sofreu horrores por causa do calor e da concentração de monóxido de carbono.


Se é que pode haver alguma coisa engraçada nesta história é que alguns dias antes eu andei recebendo o mesmo e-mail de um monte de gente bem-humorada com uma foto de um carro capotado em uma posição inacreditável, resultado da astúcia da motorista. A legenda da foto era "mulher ao volante".

Não é um consolo saber que quem dirige mal é mulher?

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

AS NOVAS DO BFI 2009

O Festival de Cinema Gay e Lésbico de Londres apresenta SOCIETY, drama sobre um grupo de amigas de infância que vivem na Johannesburg contemporânea, sendo uma delas, Beth, uma professora lésbica ainda não assumida. Escrito e produzido pela dupla Lodi Matstela e Makgano Mambola, o filme é uma versão editada de uma minissérie que cativou audiências ao apresentar pela primeira vez uma personagem lésbica na TV, na África do Sul.

SOCIETY
AFRICA DO SUL (2007) – 90 min.
DIREÇÃO: Vincent Moloi
ELENCO: Zandile Msutwana, Sibulele Gcilitshana, Lele Ledwaba

domingo, 15 de fevereiro de 2009

TEDDY AWARDS 2009 - MELHOR CURTA METRAGEM

Já a cineasta Barbara Hammer levou o prêmio na categoria curta metragem, com A HORSE IS NOT A METAPHOR. A produção, conforme descrita no Berlinale, arrisca experimentações, tem música de Meredith Monk e fala sobre mulheres com câncer. Para conhecer mais sobre a cineasta americana: http://barbarahammer.com
TEDDY AWARD 2009


Esta premiação muy especial do Festival de Berlim para filmes de contexto lésbico e/ou gay destaca este ano RABIOSO SOL, RABIOSO CIELO, de Julián Hernández. O cineasta do etéreo já havia ganho o TEDDY em sua 53. ed. com o estranho MIL NUBES DE PAZ CERCAN EL CIELO, AMOR, JAMÁS ACABARÁS DE SER AMOR e concorrido na edição 2006 do mesmo prêmio com o filme EL CIELO DIVIDIDO.

A sinopse de "Rabioso Sol..." divulgada no festival descreve de modo bem apropriado a proposta estétic
a do diretor mexicano: "A história de dois homens, Kieri e Ryo, cujo amor transcende o tempo e o espaço. Até que Tari aparece na vida dos amantes, lançando Kieri em uma jornada mística que o levará ao sacrifício e a ressurreição". Sacou? : ) Então vai a ficha aí:

RABIOSO SOL, RABIOSO CIELO
By Julián Hernández
México (2008) - 191 min.
Com Jorge Becerra, Javier Oliván, Guillermo Vilegas, Giovanna Zacarias

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

ISSO TEM IMPORTÂNCIA?

Johanna Sigurdardottir foi nomeada, em 31 de janeiro de 2009, primeira ministra da Islândia, após a renúncia do Premier Geir Haarde. Representando uma coalizão de partidos de centro-esquerda, é a primeira homossexual assumida a governar um país no mundo moderno. A moça tem 66 anos, já foi dirigente sindical, aeromoça e integrante do Parlamento islandês. Sigurdardottir é também a primeira mulher a governar este país. As eleições ocorrerão em maio deste ano.


domingo, 25 de janeiro de 2009

MOSTRA TRUFFAUT NO RIO

Terça (27/01) começa a mostra O CINEMA DE FRANÇOIS TRUFFAUT, dedicada ao amado cineasta francês, contando com peças difíceis de achar por aí, como "Os Pivetes" (1957), "Domicílio conjugal" ((1970), "Amor em fuga" (1978) e "O último metrô" (1978). O filme de abertura é "Atirem no pianista", de 1960.

Caixa Cultural Rio - Cinema 1
Av. Almirante Barroso, 25, Centro - RJ
27 Jan-08 Fev
Sessões às 16:30hs e 19:00hs
R$4 (inteira), R$2 (meia), R$10 (passaporte para 8 sessões)
www.caixa.gov.br/caixacultural