PENSAR, VER FILMES...
Está rolando na Caixa Cultural da Av. Chile, todos os sábados de manhã, o curso A HISTÓRIA DA FILOSOFIA EM 40 FILMES. Sábado 06 de Junho estive lá e adorei o filme Blow Up e também a discussão levantada pelo professor Patrick. O dia começou frio, mas a tarde veio me lembrar o que é o inverno carioca: você sai de casa cedo, todo encasacado, para morrer de calor poucas horas depois.
E o dia foi assim:
BLOW UP, de ANTONIONI
Este filme é de 1966 e é uma adaptação livre do conto “As babas do diabo”, de Cortázar. Como o entende Antonioni, é a história de um fotógrafo de sucesso na Swinging London, que ganha muita grana, mas que vive entediado e sem rumo no mundinho das celebridades. Wilco, o fotógrafo, é arrancado de seu estado de torpor ao fotografar um casal em um parque e ser perseguido pela mulher que exige a devolução do filme. Intrigado, ele amplia as fotografias e acredita ver, entre os arbustos do parque, um homem armado. Cria então, uma história de um crime e abre-se a discussão sobre a relação entre realidade e interpretação.
O professor mostrou dois momentos da história da filosofia: o realismo e o idealismo. No primeiro, entende-se que a realidade existe em si mesma e pode ser conhecida pelo homem (especialmente por meio da filosofia). No segundo, há um reconhecimento do papel da subjetividade no processo de conhecimento da realidade, que deixa de ser uma esfera autônoma e independente. O idealismo, porém, tem em comum com o materialismo a noção de que existe algo de transcendente na relação sujeito-objeto. Para o materialismo, a realidade transcende o sujeito e, portanto, há uma só verdade a ser apreendida por todos os sujeitos. Para o idealismo, é o sujeito o elemento transcendente, há uma essência na racionalidade humana, que confere a todos os sujeitos um só modo de conhecer.
Até este momento na história da filosofia, pelo que pude entender, há um centro que amarra a relação sujeito-realidade. A partir de Nietzsche, porém, este centro se desmancha na direção de um perspectivismo que afirma que o mundo pode receber múltiplas significações, já que não há nenhuma verdade embutida na realidade, nem no sujeito humano. Embora isto promova, por um lado, uma tremenda libertação, por outro causa profunda desorientação, já que nada mais possui significados fixos e, portanto, tudo pode significar qualquer coisa. E é sobre esta tensão entre liberdade e desorientação que trata o filme. E esta seria a condição do homem na modernidade.
Há uma frase famosa de um livro que nunca li, que afirmava: “se deus está morto, tudo é permitido”. A frase passou a simbolizar o fim de qualquer transcendência capaz de garantir ao homem uma condição fixa e estável. No filme, esta experiência, sentida na carne por Wilco, é radicalizada, já que nem a fotografia, com toda a sua promessa de retratar fielmente a realidade, é capaz de retirar o personagem de sua tensa condição moderna. Ao contrário, é ela quem atira Wilco em uma situação em que se vê sozinho com seus próprios filtros interpretativos, que não o permitem encontrar “a verdade”, nem mesmo ligá-lo de modo definitivo a outros sujeitos. Esta ligação, quando ocorre, é nitidamente precária e limitada a breves momentos nos quais uma fugaz comunidade de sentidos se forma, como mostra uma cena linda, linda, de uma partida de tênis disputada por mímicos que convidam Wilco a apanhar “a bola que caiu do outro lado da quadra”.
Você a pegaria?
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