sábado, 1 de março de 2008


ESTRÉIA NOS CINEMAS “XXY”

A boa pedida de cinema desta semana é "XXY", filme de estréia da diretora argentina Lucia Puenzo, sobre os conflitos de identidade de Alex, que nasceu com os dois sexos. Seus pais rejeitaram a cirurgia de castração proposta pelos médicos quando Alex nasceu, e mudaram-se com ela para um balneário no Uruguai. Um médico cirurgião, Ramiro, vai visitar a família para conhecer Alex e leva Álvaro, seu filho adolescente.


Alex foi criado como uma menina, mas aos quinze anos pára de tomar os corticóides que impediam o desenvolvimento de características masculinas em seu corpo. Ela está confusa, mas parece disposta a experimentar as possibilidades que lhe são abertas. Ela, então, se envolve com Álvaro, e, embora este revele estar se apaixonando, a relação entre eles é apresentada como algo complicado demais para os dois.


Lucia Puenzo fez um filme bastante carregado de sofrimento, sugerindo o quanto as diferenças ainda custam um preço alto para as pessoas. Lento, até arrastado em algumas partes, cheio de silêncios e de trocas de olhares entre os personagens, o filme tem, em contrapartida, cenas bonitas, belas paisagens no balneário e ótima interação entre os atores, ponto alto da produção. O tema é muito raro no cinema e a diretora o aborda com alguma esperança de que a personagem construa uma imagem positiva de si mesma e perfaça seu próprio caminho. Essa chance foi dada a Alex pelos próprios pais, que mantiveram abertas as possibilidades de seu desenvolvimento sexual. Kraken, o pai de Alex, é biólogo e, com suas atitudes que sempre expressam respeito à natureza, parece pressentir que forças internas à Alex acabarão por se manifestar. Ramiro, o médico cirugião, é seu exato oposto, um “reformador da natureza”, que, nas palavras de Álvaro, conserta defeitos nas pessoas.


A defesa da possibilidade de escolha de Alex, ou do encontro da personagem com sua própria natureza, parece ser a mensagem recorrente do filme, salpicada em tantas metáforas, algumas de gosto duvidoso, como cenouras sendo picadas e tartarugas mutiladas... O título do filme chegou a levantar alguma polêmica, pois se refere à Síndrome de Kleinefelter, uma alteração cromossômica que atinge somente homens, e que é diferente do hermafroditismo ao qual a personagem de Alex acabou sendo associada. A diretora afirmou que o filme não é um documentário e sim uma história de ficção, que não se apóia no realismo médico. A luta da personagem no filme, é claro, dirige-se justamente contra os rótulos que a estereotipam como uma aberração.


O próximo filme de Lucía Puenzo é uma adaptação de sua primeira novela, El Niño Pez, sobre uma jovem de família rica que se apaixona pela empregada.


XXY

Argentina/França/Espanha, 2006 - Drama (86 min)

Direção e Roteiro: Lucía Puenzo, baseado no conto "Cinismo" de Sergio Bizzio
Fotografia: Natasha Braier
Elenco: Inés Efron (Alex), Ricardo Darín (kraken), Valeria Bertuccelli (suli), Germán Palacio (Ramiro), Carolina Pelleritti (Erika), Martín Piroyansky (Álvaro), Luciano Nóbile (Vando)
Premiações: Athens International Film Festival (melhor filme), Bangkok International Film Festival (melhor filme), Cannes Film Festival (Grande Prêmio da Semana dos Críticos e Grand Golden Rail), Clarin Entertainment Awards (melhor filme, melhor atriz – Inês Efron, melhor atriz coadjuvante - Valeria Bertuccelli, melhor filme de estréia), Edinburgh International Film Festival (melhor diretor estreante), Goya Awards (melhor filme estrangeiro em língua espanhola), Montréal Festival of New Cinema (prêmio da crítica), World Soundtrack Awards (trilha sonora).


FONTES
:
http://www.imdb.com/title/tt0995829
http://www.cinemawithoutborders.com/news/127/ARTICLE/1477/2008-02-20.html

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