sexta-feira, 5 de outubro de 2007

CINEMA GAY? (OLHE PARA MIM, QUERIDO )

OLHE PARA MIM, QUERIDO
ALEMANHA /
EUA / França / Holanda (2007)
Documentário - 90 minutos

Direção e roteiro: André Schäfer
DEPOIMENTOS: Guinevere Turner, John Waters, Gus Van Sant, Tilda Swinton e Stephen Frears, entre outros.

Documentário sobre a história do cinema gay e lésbico, com depoimentos de vários diretores e atores, que discutem a própria noção de “cinema gay” e o papel dos filmes que abordam esta temática na sociedade. O documentário concentra-se nos filmes produzidos a partir dos anos 70, com base na premissa de que somente desta década em diante os gays passaram a ser representados de modo mais positivo nos filmes. Gays em filmes dos anos 50 e 60 sempre morriam ou eram punidos de alguma forma terrível no final da história. Uma pena que o cinema latino também tenha ficado de fora, sem nenhuma explicação aparente, pois tratam-se de produções que não mereciam ser ignoradas.

Pelos depoimentos, percebe-se o quanto os artistas, com sempre, se sentem desconfortáveis com rótulos, rejeitando a idéia de que existe algum tipo de “queer cinema” ou “cinema gay”. As produções são diversas e todos querem ser reconhecidos pela qualidade de seu trabalho, o que é mais do que justo.

John Waters, divertidíssimo, foi o mais iconoclasta de todos os entrevistados, questionando até porque os gays querem se parecer tanto com os republicanos (casar, ter filhos, entrar para o exército...). “Ser gay não é o suficiente”, disse sobre os cineastas que investem em personagens homossexuais em seus filmes.

Stephen Frears deu um depoimento-chave no documentário. Disse que ter feito Minha adorável lavanderia, em 1986, nada teve a ver com ser ou não ser gay, mas apenas porque lhe pareceu um ótimo filme, pelo roteiro, pela idéia. Mas notou que o filme afetou muito positivamente as pessoas, quando os jovens vinham lhe agradecer por ter feito um filme em que os gays não pareciam loucos ou neuróticos.

Guinevere Turner, de O par perfeito e roteirista de alguns episódios de The L World, também lembrou o que tudo isso tem a ver com política, reconhecendo que os homossexuais ganharam alguma visibilidade na mídia nos dias de hoje, mas que isso está longe de significar que não há mais nada a fazer politicamente. Foi interessante esta observação, pois rola uma certa idéia de que, já que os gays estão “até” nas novelas, é porque eles estão no topo do mundo e o mundo já mudou tudo o que podia para aceitá-los. Guinevere também mandou uma alfinetada para os filmes lésbicos, dizendo que eles são indiscutivelmente inferiores aos filmes gays.

Gus Van Sant, que revelou ter estado envolvido na primeira tentativa de filmar O segredo de Brokeback mountain, sugeriu que parte do sucesso do filme teve relação com o fato de ter um cast careta (atores e diretor), o que facilitou sua aceitação pelo público heterossexual, que assim pôde ir tranqüilo ao cinema ver um filme gay. Bem, parece que nem tudo se resume a talento, então...

É apenas política, and I like it!


Além das questões interessantes que o filme levanta, foi bem bacana rever trechos de filmes que se tornaram marcos na história do cinema... hummm... gay. A sessão no Palacio 2, para uma tarde de quinta, teve um público bem legal.




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