domingo, 8 de novembro de 2009



GENTE SEM HONRA


Em outro sábado bacana, vi o segundo filme baseado em peça de Shakespeare no curso de Filosofia e Cinema. Depois de Ricardo III de Al Pacino, foi a vez de MacBeth de Polanski. O professor reforçou a tese de que a história, na visão do bardo, é um cemitério de reis, uma espécie de engrenagem que se move à base da ambição humana e da usurpação do poder por meio do assassinato.


MacBeth vira suco nesta engrenagem, depois de chegar ao topo do poder matando o rei Duncan e tendo sua cabeça cortada no final da história por aquele que o sucederá nesta sangrenta e infindável "roda da história". Assim também Ricardo III promoveu intrigas terríveis para chegar ao poder para, em seguida, perdê-lo e ver-se reduzido, em meio ao campo de batalha, à miserável condição de alguém que trocaria seu reino por um cavalo.


Esta tese, disse o professor na palestra, foi desenvolvida por Jan Kott, no livro "Shakespeare, nosso contemporâneo". Ela estaria muito bem sintetizada na famosa passagem de MacBeth, "a vida é apenas uma sombra que passa. Um pobre ator que grita e se agita por algumas horas e, então, se cala. É uma história contada por um idiota, cheia de som e fúria, significando nada".


Eu e meu amigo não ficamos convencidos desta idéia com os dois filmes que vimos. Achamos que há questões éticas nestas histórias, que mostram muito mais um processo em que alguém tenta chegar ao poder de modo ilegítimo, por meio de traição e violência, abandonando valores como lealdade e honra, e tem um final trágico por isso. Seria Shakespeare um moralista?


E também não tive dúvidas de que Polanski deixou no chinelo a tentativa insossa de Al Pacino de aproximar Shakespeare das massas (americanas, claro).

sábado, 24 de outubro de 2009


Chagall em russo quer dizer caminhante.


Em suas obras, por sinal, poucos preferem a terra firme.








domingo, 11 de outubro de 2009




Primavera, Outubro.

Um dia azulão depois de vários dias feiosos com chuva insistente. 5 da tarde. Descobri na internet um disco novo da minha banda favorita. De quebra, descobri também um disco solo da vocalista da banda, que eu adoro. São minhas companhias do dia. Que começou dedicado a resolver aqueles problemas chatos tipo pia entupida. Depois emendei dando banho na macacada. Os 5 cachorros estão agora cheirosos e com o pêlo birilhante.

Fui pra cozinha ao som de Margo Timmins. Fiz pastel de queijo, abri um vinho, fiquei pensando na vida. Não consegui concluir nada que fosse útil no momento. Mas ainda bem que o prazer de seguir na estrada justifica os caminhos que não levam a lugar algum.

A comida está boa, eu passei um tempo conversando com um amigo ao telefone sobre filosofices e o chamei para ver um dos filmes do evento de filosofia sábado que vem. Vai rolar Paris, Texas. Eu ouço falar deste filme há tanto tempo, mas nunca o assisti. Minha primeira namorada era fã dele e vivia insistindo para eu assistir. Mas eram os anos 90 e um filme do Wim Wenders não dava mole por aí nem em VHS, que dirá na internet.

O vinho é de quinta. Mas um chileno de quinta ainda é melhor do que a maioria das porcarias que eu tomo. Chama Vento Der Sur e é Cabernet Sauvignon, o que facilita muito as coisas. Os cigarros estão na roda, depois que acaba a comida.

Agora as tintas estão aqui por perto também.

Ontem encontrei um amigão quando fui assistir Hiroshima Mon Amour, assim mesmo sem virgula o título, como destacou o professor que deu a palestra depois. Conversamos muito sobre o filme, a arte, a filosofia e a educação e foi um dia muito bacana e chuvoso pra nós.

No filme, uma atriz Francesa, que está rodando um documentário qualquer sobre a paz na Hiroshima pós-guerra se envolve com um japonês que quer dar continuidade ao relacionamento. Ela parece sentir que sim, mas entra em parafuso quando o vê dormindo e se lembra, por uma traição da memória involuntária, do que julga ter sido o amor de sua vida. A posição da mão do atual amante em soneca a faz lembrar da posição da mão do ex-amante que encontrou morto. Triste, uma infinidade de sentimentos de culpa a perseguem e a impedem de viver o novo amor. É doída, mas muito bonita cinematograficamente, a cena em que ela mergulha o rosto na água, confessando ao antigo amante que estava quase a lhe esquecer. Paralelamente, rola uma associação com a questão do esquecimento da tragédia da bomba sobre a cidade. Hiroshima, enfim, também parece seguir em frente, embora os documentários bem-intencionados ali estejam para lembrar o horror ocorrido, com a mensagem edificante de que aquilo não poderia se repetir novamente.

O professor, na palestra lembrou da teoria de Adorno, filósofo alemão que disse que a arte, embora deva ser engajada a ponto de contribuir para que Auschwitz não se repita, não deveria transformar aquela experiência em um produto cultural a ser “consumido”, isto é, digerível como qualquer outra mercadoria. A arte não deveria ensinar às pessoas o que elas deveriam pensar. Adorno fala em defesa de uma arte que não traga mensagens prontas, nem carregadas de uma moral profunda. Estas são muito palatáveis, confortantes e igualmente esquecíveis. Só as mensagens que inquietam com suas perguntas permanecem. Bem, Adorno não deve ter dito exatamente isto, mas percebi que vou ficar com este filme em mim, por causa de Auschwitz e por causa do que sinto neste mometo da minha vida pessoal.
Nem mesmo a arte poderia pretender representar com fidelidade todo aquele horror, afinal, só quem morreu na câmara de gás o viveu plenamente, disse Primo Levi. Esse questionamento perpassa o filme, já que a personagem da atriz insiste em ter visto “tudo” em Hiroshima, porque visitou os museus da guerra, tendo visto os destroços e as imagens dos corpos queimados. “Não, você não viu nada em Hiroshima”, retruca o amante.

E o filme assim escorrega, com muita angústia, entre o que deve ser esquecido e o que precisa ser lembrado. E a cidade, em que tudo parece se desfazer como se, ainda hoje, também fosse alvejado por uma bomba, é o cenário perfeito para estas discussões.

Até mesmo na era dos amores líquidos este filme parece deixar sua inquietude.E foi feito em 1959, por Alain Resnais, com base no texto de Marguerite Duras.

Tem sido muito bacana retomar o contato com estes filmes clássicos por meio deste curso de filosofia. E ontem também assiti a Gesto Obsceno, um filme contemporâneo, mas é papo para outra garrafa de vinho, já que o Vento Der Sur já foi pra conta. Talvez eu consiga abrir um sul-africano que havia reservado para uma ocasião que não vai mais acontecer.
Ai, essas coisas que precisam ser esquecidas...

sábado, 10 de outubro de 2009

Hoje no curso de filosofia rolou a sessão de Hiroshima Mon Amour. Filmaço sobre os horrores da guerra, do amor e da lembrança.

Pra variar, dialogou direto com meu momento.

Assim não consigo largar esse vício.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Um dia horrível de chuva.

Amanhã seria meu aniversário.

Mas o dia 9 de Outubro desta vez saiu por aí, para algum lugar bem longe dos meus desejos.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

DIAS DE FESTIVAL
Uma vida nova em folha, de Ounie Lecomte
No Espaço de Cinema lotadinho
Bonito filme. Não saberia explicar o modo de filmar da diretora, só sei que me deixou cercada junto à Jin-Hee, abandonada pelo pai aos 9 anos em um orfanato. O filme acontece todo dentro das emoções da personagem, perfeitamente transmitidas em uma atmosfera tão verossímil, que faz parecer que a diretora filmou escondida em um orfanato existente.

O interessante é que a história não apela para certas situações tradicionalmente exploradas em filmes do tipo. A menina não apanha, não passa fome, nem é atazanada pelas outras internas. O sofrimento intenso da personagem, que chega a enterrar a si própria em uma cena, é construído em torno dos efeitos do abandono, nos deixando a pensar se sua situação de fato mudaria com uma adoção. E assim sendo, há vários modos de se estar bem perto do que sente Jin-Hee, tornando este um daqueles filmes que, embora autobiográficos, são cheios de um irresistível universalismo.
Fantasma, de Monika Treut
No Estação Barra Point praticamente vazio
Único filme lés da mostra Mundo Gay do Festival deste ano, quase me levou a abandonar a sala de cinema lá pelo meio da projeção. Realmente, não deu pra entender o que a diretora quis dizer com aquela encheção de lingüiça insuportável. História que não desenrola, personagens sem carne nem osso e casal zerado em química me fizeram abrir meu jornalzinho pra ver quanto tempo ainda duraria a peleja.
Pelo que entendi, uma artista alemã perde a namorada coreana e é perturbada por seu espírito, até lançar mão de um ritual oriental para fazer a morta finalmente descansar em paz. Mas não tem nada de terror, nem de suspense, nem de filme de amor! Eis um filme que, ao invés de transcender gêneros, não encontra nenhum para desenvolver uma história razoável. A acrescentar, só mais uma personagem lés a virar presunto, desta vez atropelada. Ruim de doer.

sábado, 26 de setembro de 2009



Dias bonitos como este são ainda mais difíceis...