domingo, 31 de agosto de 2008


AS ÚLTIMAS DO CIRCUITO NACIONAL – PARTE II


Do Outro Lado, de Faith Akim, é um bonito filme que entrelaça de modo tocante as vidas de pessoas ora unidas, ora separadas por códigos culturais. Nejat e seu pai são imigrantes turcos que têm uma relação perturbada pelo fato de que Nejat foi criado sob a cultura alemã e está mais próximo dos valores ocidentais do que daqueles que seu pai ainda sustenta. A estúpida morte da prostitua Yeter abala de vez as vidas dos dois e leva Nejat de volta à Turquia, em busca de Ayten, a filha de Yeter, com quem esta há muito não falava.

Entretanto, Ayten, ativista estudantil, está a caminho da Alemanha, onde entra ilegalmente para escapar da perseguição da polícia turca. Na Alemanha, ela se envolve Lotte, jovem sonhadora que tem um relacionamento turbulento com a mãe. Ayten e Lotte se apaixonam e quando Ayten é deportada para a Turquia, Lotte vai atrás dela. Na Turquia, outro gesto estúpido provoca o rompimento desta relação. A mãe de Lotte também parte para a Turquia em busca da filha e acaba conhecendo Nejat.

A relação entre as meninas rende uma parte muito interessante do filme, mas é tragicamente interrompida, em mais uma daquelas histórias em que relação entre mulheres não dura muito tempo. A homossexualidade, porém, não é o fator que determina o destino dos personagens. A extrema violência que se abate sobre Ayten e Lotte não está ligada a sua condição homossexual. O filme trata de outras diferenças que provocam desigualdades e distanciam as pessoas, mesmo quando estão lado a lado em uma mesma sala e, principalmente, de sentimentos capazes de aproximá-las, mesmo quando estão em países diferentes. De modo surpeendente, a história explora as possibilidades e as fragilidades das relações entre personagens tão perto e tão longe uns dos outros.

DO OUTRO LADO (Auf der anderen Seite)
Turquia / Alemanha / Itália – 2007 – 122 min.
DIREÇÃO: Faith Akin
ELENCO: Nurgül Yesilçay (Ayten/Gül), Baki Davrak (Nejat Aksu), Tuncel Kurtiz (Ali Aksu), Hanna Schygulla (Susanne Staub), Patrycia Ziolkowska (Charlotte 'Lotte' Staub), Nursel Köse (Yeter/Jessy)
O filme ganhou 17 prêmios, dentre eles o de melhor roteiro em Cannes

domingo, 17 de agosto de 2008

AS ÚLTIMAS DO CIRCUITO NACIONAL – PARTE I

ONDE ANDARÁ DULCE VEIGA?
Brasil (2007)· 135 min.
DIREÇÃO: Guilherme de Almeida Prado
ROTEIRO: Guilherme de Almeida Prado (baseado no livro de Caio Fernando Abreu, “Onde Andará Dulce Veiga?”)
ELENCO: Maitê Proença (Dulce Veiga), Carolina Dieckmann (Márcia), Eriberto Leão (Caio), Nuno Leal Maia (Rafic), Carmo Della Vechia (Raudério), Cacá Rosset (Castilhos)
SINOPSE: A história acompanha o jornalista Caio (Eriberto Leão) que, nos anos 80, tenta descobrir o paradeiro de Dulce Veiga (Maitê Proença), atriz e cantora de sucesso desaparecida desde os anos 60. Ao longo de sua jornada, conhece Márcia (Carolina Dieckmann), a filha de Dulce, e se apaixona por ela.

Não sei não, mas este filme parece um pouco cheio de planos para transgredir, mostrando a Carolina Dieckemann seminua, na pele de uma rrriot girrrrl, revoltadona, lésbica, atirando pedras em quem passa pelo seu caminho. Tem também um beijo gay entre atores gatos. Alguma ousadia no visual, narrativa pouco linear e história baseada na obra do cultuado Caio Fernando de Abreu.

A ficha para mim, entretanto, não caiu. O filme não me provocou nem um pouco, nenhum personagem me comoveu, nenhuma saga me fez remexer na cadeira. Não senti nada e acabei achando tudo muito chato. A Márcia de Carolina não disse a que veio. Pelo menos do modo como foi mostrada no filme, pareceu mais uma gatinha assustada fingindo ser casca-grossa. Caio, embora tenha se lançado em uma jornada em princípio tão interessante, atrás da misteriosa Dulce Veiga, foi muito pouco convincente. Ele não parece estar pessoalmente envolvido naquela busca. Sua expressão facial, a mesma durante todo o filme, nos faz crer que está executando uma de suas tarefas rotineiras.

Bem, dizem por aí que o filme é ousado demais, destinado ao culto de poucos. E como é cheio de mergulhos na imaginação do jornalista, se presta àqueles comentários igualmente herméticos (“uma ode à transposição entre o real e o imaginário...”). Outros o acusam de pôr tudo a perder com um final novelão, com Dulce Veiga discursando um textinho de auto-ajuda e beijinho de encerramento. Carolina Dieckman dando um passa-fora na namorada para entrar na linha ao lado de Caio pode ferir sensibilidades. Ah, sim, pode ser que o encontro dos dois no final seja mais um mergulho na imaginação do jornalista. Ai, ai, essas transposições entre o real e o imaginário...

Mas filmes que dividem platéias são assim mesmo, deixam uma única alternativa: só vendo para escolher o seu lado.