TODAS AS MULHERES DO MUNDO (OU QUASE)
MULHERES, SEXO, VERDADES E MENTIRAS
Brasil (2007) - 78 min.
Direção: Euclydes Marinho
Roteiro: Euclydes Marinho e Rafael Dragaud
Elenco: Júlia Lemmertz, Fernando Eiras, Malu Galli, Fernando Alves Pinto, Cristina Andrade, Branca Messina, Priscila Rozenbaum
Filme bacana de Euclydes Marinho, que mistura drama e documentário, contrapondo uma história encenada por atrizes a depoimentos de pessoas comuns, borrando algumas vezes a fronteira entre eles.
No filme, Laura, a personagem de Julia Lemmertz, está entregue a uma paixão intensa com Mário, um homem que parece ser a realização dos sonhos das mulheres que prestam depoimentos no documentário que ela realiza sobre a sexualidade feminina. Este “filme dentro do filme” abre um jogo provocante com a platéia: depoimentos verídicos são misturados a interpretações de texto por atrizes não conhecidas.
Foi um prazer assistir ao filme e participar dos jogos propostos. Mas eu tive uma sensação de estranhamento como resultado. Em primeiro lugar, porque os depoimentos que me pareceram verídicos acabaram por interferir na outra parte do filme, que ficou parecendo uma novelinha desinteressante com textos que saíam forçados da boca das atrizes, que eram ótimas, por sinal. Teria sido uma boa novela, não fossem as pessoas de carne e osso a esfregar a realidade em nossas caras.
Outro incômodo foi a intenção indisfarçada do filme de alcançar a diversidade de pontos de vista. O diretor quis afirmar, muito claramente, que não há um só tipo de mulher. Tive a impressão de que os depoimentos foram cuidadosamente selecionados e dispostos para deixar evidente a contradição de desejos e de modos de ser. Neste ponto, é claro, não pude deixar de tentar me achar em alguma daquelas mulheres e foi inevitável a frustração de não me ver representada por nenhuma delas.
Boa parte dos depoimentos e histórias foram na direção daquela lista sem fim de reclamações sobre os homens, que todos já ouviram ou viveram e que parecem não mudar nunca (não consigo entender como as pessoas ainda acham isso engraçado). A outra parte apoiava-se em mulheres já libertas desta lenga-lenga (ainda bem, senão ia ser difícil de aturar o filme) mas que só enxergam prazer no sexo oposto. Bem, houve uma ou duas linhas sobre experiência com mulheres, que aparececeram como fantasias “confessadas” muito timidamente diante das câmeras, quase como uma excentricidade. É, o filme não foi feito pra um tipo de mulher como eu, paciência. Tentei enxergar algo de universal naqueles discursos todos, mas não deu. Sei que os cineastas não conseguem falar sobre tudo que o público espera. E quem espera fazendo parte de uma minoria, tem chances ainda maiores de ter as expectativas frustradas...