Meu reencontro com Marina Lima aconteceu em um desses passeios por lojas de discos, quando vi o “Todas ao vivo” dando sopa na prateleira de CD’s. “Há quanto tempo”, saudei em silêncio, pensando no meu vinil já aposentado – mas que quase virou pó, de tanto que andei com ele pra cima e pra baixo nos anos 80.
Eu pisei no Canecão/RJ em 1986 para ver o show deste disco e fui brindada com uma apresentação sem igual, habitante definitiva da minha memória afetiva. Eu não pude entender naquele momento o que acontecia, mas ela fazia um movimento dentro da MPB em uma direção singular e arriscada, que foi emocionante testemunhar. Não havia nada parecido no cenário da MPB, nada que combinasse música e atitude da forma como ela o fez. Por isso ela se tornou tão especial para mim naquele momento.
Vinte anos remaram, eu fui ouvir um monte de outras coisas, ela lançou outros discos, recolheu-se por um tempo e voltou à cena recentemente. Fui matar saudades, no maior tom de nostalgia, com um show que rolou em um lugar muito bacana aqui no Rio, o Parque dos Patins, na Lagoa.
E como gostei do que vi. A nostalgia cedeu, música a música, ao prazer do estranhamento com as novas canções e, especialmente, com as novas leituras de hits das antigas, bebendo nas fontes dos sons eletrônicos. Este tom lhe cai tão bem que, suspeito, nunca lhe foi totalmente estranho. “$ Cara”, por exemplo, parece ter sido escrita para esta roupagem.
Elos entre MPB e música eletrônica já andam sendo feito por aí há bastante tempo, é verdade, mas a riqueza da música brasileira e as possibilidades de criação abertas por esta sonoridade podem dar em algo bem diferente. Foi o que imaginei, ao vê-la experimentando e se arriscando de novo, tentando deixar mais uma vez o conforto da condição de cantora de MPB e, mais importante ainda, evitando viver do passado. Aliás, nem posso dizer que “revi” o passado neste show. Ouvindo “Nervos de aço”, sob o céu da Lagoa, mas como se estivesse em Bristol, só pensei no que poderia estar por vir. Sorri, pressentindo a emoção do risco. Que assim seja, ...
Por CASTELLA, novembro/07.
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